Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis: o novo começo da Marvel nos cinemas

O segundo filme da Marvel, depois dos adiamentos causados pela pandemia, finalmente chegou ao cinema e cumpriu o que prometeu. Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, protagonizado por Simu Liu, mostra a evolução do estúdio e a capacidade que eles adquiriram ao longo dos anos em contar novas histórias, que além de ousadas, têm um significado além das salas de cinema. 

Shang-Chi, que atualmente responde por Shaun, foi treinado desde criança por seu pai, chefe de uma organização criminosa, para ser um assassino. Depois de ser enviado para uma missão, Shang-Chi decide fugir e passa 10 anos vivendo uma vida comum nos Estados Unidos, onde conhece Katy, personagem de Awkwafina. Quando os homens de seu pai vêm atrás do colar deixado por sua mãe, a vida do herói vira de cabeça para baixo embarcando numa aventura em busca de suas raízes, sempre acompanhado de sua melhor amiga. 

Assim como Pantera Negra, o novo herói do Universo Cinematográfico da Marvel se torna especialmente relevante por conta de sua representatividade. Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis é o primeiro filme do estúdio a ter um elenco majoritariamente asiático, trazendo também extensivos diálogos em mandarim, feito inédito na Marvel. Esse tipo de história tão centralizada no orientalismo tem um peso ainda maior em tempos de covid, onde a comunidade asiática tem sido alvo de xenofobia ao redor do mundo. 

Infelizmente, Shang-Chi, diferente de T’Challa, não foi introduzido ao universo numa produção anterior, o que fez com que o roteiro repetidamente usasse de acontecimentos passados do UCM – e até mesmo personagens –  para fazer a história andar. Os flashbacks da linha temporal da Marvel e os da história do protagonista tornam o filme cansativo em certos momentos.

Depois de Doutor Estranho e WandaVision os horizontes da Marvel se expandiram, o que fica claro nesse filme. O estúdio se tornou mais corajoso, sem medo de explorar histórias mais místicas, como é o caso de Shang-Chi e os títulos já mencionados.  No longa, os fãs são introduzidos a diversos tipos de magia e criaturas místicas com a mesma fluidez que os simples filmes de soldado foram apresentados no passado. 

Além disso, mais uma vez um filme da casa explora um novo gênero. A produção traz consigo o “feeling” dos filmes de artes marciais que já conhecemos mas com uma roupagem única. A qualidade das cenas de luta adicionadas a um roteiro inteligente e ponderado revela os novos caminhos que os próximos filmes da produtora podem percorrer.

Shang-Chi explora temáticas além da dicotômica disputa entre vilão e mocinho. Depois dos títulos lançados exclusivamente no Disney+, o público espera mais uma camada dramática nas tramas do estúdio. Aqui além de “vilão”, Mandarim também é o pai de Shang-Chi e a sua motivação não é pautada em uma busca de poder, e sim no luto, no desejo de trazer de volta alguém que já se foi. O herói se vê lutando 1- contra o seu pai 2- tentando salvar a memória e a família de sua mãe, tudo isso enquanto tenta descobrir quem é, o que torna a performance de Liu e Tony Leung, que interpreta Mandarim, ainda mais marcante. Apesar do conflito entre pai-filho-família ser bem fundamentado na história, a autodescoberta do protagonista soa como uma decisão de última hora. 

A personagem de Awkwafina também traz à mesa a sua própria jornada de autoconhecimento, que se mostra muito relacionável entre os jovens da idade dela, especialmente em tempos como esse, onde depois de um acontecimento em âmbito mundial se encontram sem direção. A performance da atriz também acrescenta positivamente no filme, sendo muito mais que o alívio cômico, lugar monótono que era esperado que Awkwafina assumisse por sua experiência em comédia. 

No mais, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis se mostra um filme completo, inovando nos limites do estúdio e trazendo performances memoráveis.

Por Deyse Carvalho
03/09/2021 09h00