“Salão de Baile” encerra Olhar de Cinema com um documentário vibrante

Salão de Baile Foto Reprodução
Foto: Reprodução

O filme de encerramento do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba trouxe arte e resistência para os cinemas. “Salão de Baile” foi exibido tanto no Cinemark Mueller quanto no Cine Passeio, em sessões lotadas. Vitã e Juru, que assinam a direção, estiveram presentes apresentando o filme, que retrata a comunidade ballroom do Rio de Janeiro, destacando pessoas negras LGBTQIAP+.

As pessoas diretoras, que fazem parte da comunidade ballroom, preparam uma festa especial para documentar a cena, acompanhando todo o preparo até as apresentações. O movimento é inspirado na cena nova-iorquina dos anos 1960 e 1970, quando pessoas trans negras, cansadas de serem excluídas dos espaços gays, formam seus próprios eventos, as “balls”. Desfile, dança, batalhas de poses e premiações marcam esse movimento – que ganha força no Brasil na década de 2010.

O documentário consegue apresentar as relações estabelecidas com a cena ballroom estadunidense e explicar como tantos termos em inglês ainda povoam o cenário nacional. Também mostra o lado mais brazuca da cena, como o batekoo.

Festa

O filme começa com a abertura da festa. Vitã e Juru capturam com precisão a energia do evento, com câmeras superiores, por trás dos jurados, e até quando entram em cena para os detalhes das danças. Entre as cenas do Ball, surgem as entrevistas. Divididas em “casas”, as participantes mostram apoio às amigas e competem com outras casas. “Salão de Baile” destaca bem a forma como uma casa não é só um grupo de pessoas – muitas vivem juntas, dividem apartamentos, constroem uma rede de apoio.

Ainda assim, há suas dificuldades. Quando o filme quase cai numa fórmula repetida (cena de baile intercalada com entrevista), uma ruptura revela que até nos espaços que buscam ser seguros há discordâncias. As balls tendem a ser espaços de acolhimento e celebração de belezas e vivências dissidentes, mas não estão livres de cair no erro do preconceito. Vitã e Juru humanizam as figuras retratadas, mostrando as dificuldades por trás do glamour.

Reconstituição crítica

Para explicar a origem das balls, o filme não recorre a imagem de arquivo, e sim a uma reconstituição do passado. As participantes se vestem de figuras centrais como Crystal LaBeija, fundadora da primeira casa que daria origem ao sistema das festas de baile. Uma crítica pontual à Madonna e apropriação cultural de voguing também é revisitada e entendida na cena atual.

Salão de Baile” é um filme completo tanto para quem não teve contato com a cena até para quem já participa, pois traz as vivências únicas daquelas pessoas enquanto apresenta o que é a cultura ballroom nos detalhes. Tanto cenas do evento quanto de depoimentos e ensaios trazem imagens potentes e bem construídas, com registros criativos e imersivos. E a trilha sonora faz jus ao contexto, envolvendo do início ao fim do documentário.

Por Brunow Camman
21/06/2024 12h30

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