Priscilla revela uma das muitas faces do rei do rock

Foto: A24

A moral da história com Priscilla é nunca acreditar demais no hype. Depois de ser exibido no Festival de Veneza, o novo longa de Sofia Coppola foi levado às alturas pela crítica. E de fato, o filme tem seu valor e sua destreza. Mas tão importante quanto os pontos fortes, são as fraquezas. Brilhante e repugnante ao mesmo tempo, o lançamento poderia aproveitar exponencialmente de uns 30 minutos a mais de tela.

Em Priscilla o público é levado para dentro de Graceland, onde conhece a finco o relacionamento entre Priscilla e Elvis Presley. Entre traições, maternidade, vício e dinheiro, o relacionamento que começa com uma troca aparentemente genuína se transforma em uma expressão de posse.

Até o terceiro ato tudo caminha bem. Diferente de Elvis, com que provavelmente mais será comparado, o filme não é uma caricatura de uma caricatura, mas sim traz personagens com ambições e sentimentos reais à tela. E mesmo agindo como vilão, a imagem do rei do rock é mais preservada que o esperado.

Assistir o filme é um mar de sensações – nenhuma delas agradável. Acompanhar uma menina com menos de 18 anos despir-se de si em troca da aprovação de alguém é visceral. Mas não porque é algo inédito e nunca visto, mas sim por que é tão comum que ver na tela do cinema é ainda mais assustador.

Cailee Spaeny veste a roupa da personagem como ninguém. A história de Priscilla atravessa a atriz até as duas se tornarem uma só. Apesar de diminuta, a atuação da atriz comove e faz jus ao lugar de protagonista que assume. Enquanto isso, Jacob Elordi, apesar de não fazer o melhor Elvis da ficção, assume uma postura mais realista menos floreada do personagem. Mesmo assim sua presença imponente convence enquanto antagonista por ocasião.

O filme, com seus visuais únicos e serenos, foi apontado como um “projeto de arte” da diretora, o que discordo. Sofia, que enfrentou limitações na trilha sonora não podendo acessar o acervo de Elvis e aparentemente não querendo usar faixas de outros artistas da época, se conteve à fotografia. De fato a fotografia é espetacular, mas ainda sim mantém seu papel de criar uma atmosfera melancólica ao contar uma história também melancólica.

O que fere o todo são os últimos minutos do filme. Priscilla arrasta cada fase da vida da protagonista ao último, tendo inúmeras cenas de sala de aula e solidão dentro da Graceland, mas na hora que mais importava a direção se reprime. O fim do casamento é apenas uma nota de rodapé na produção, deixando a impressão de que foram cortados 40 minutos do produto final. Assim, o espectador sai da sessão insatisfeito com mais um filme sem um final adequado.

Ainda assim, Sofia Coppola mantém a qualidade de suas produções, fazendo de Priscilla uma ótima biografia – ou memoir – de uma figura emblemática da cultura pop.

Por Deyse Carvalho
21/12/2023 11h01

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