O Tal do Onisciente.docx

Não importa o quão longe você pensa que está, você nunca está verdadeiramente sozinha. Ele te escuta o tempo todo, vezes te ajuda, vezes te desafia. Por mais que você ache que não é possível a presença dele em alguns lugares, do nada, você descobre um microfonezinho potente e invisível que está lá, o tempo todo te analisando – o Google não é adepto da solidão.

No começo eu me chocava, fazia alarde e achava ao mesmo tempo aquilo tudo revoltante e, infelizmente, sensacional. É fácil como alguns interesses nos aparecem. E parece que tentar fugir daquela vigília constante está fora da realidade de se viver nesses anos tecnológicos. Então se é para me escutar mesmo, que facilite minha vida.

Esses dias, rolando na mesmice do Instagram, na espera de uma nova vida do Candy Crush (voltamos para os anos 2010), apareceu ali no feed uma publicidade de uma bota amarela. Era meio tipo galocha, meio coturno, acho que com preto, algo assim. Gostei. Mas não sou de bota, nos meus pés só entram tênis – e, é claro, o Crocs. Como já tinha dado o tempo de uma nova vida, voltei para o Candy Crush e não vi mais a bota. Uns dias depois, me surgiu um desejo consumista repentino de olhar melhor a tal botinha, e foi aí que comecei a procura.

Procurei em todos os “sites de departamento” que conheço, e até no buscador da Amazon fui tentar a sorte (afinal, o frete é grátis) – nada. E o meu Google onisciente, onde estava estas horas? Eu falei “bota amarela” mais de setecentas e sessenta e cinco vezes, com todas as entonações que minhas cordas vocais permitiam, e nada de me mostrar aquela bota.

É engraçado como ele só funciona quando quer. Tem horas que é o MacGyver, como quando me mostrou um macaquinho de pelúcia igual o que a Berenice esqueceu na praia – bem, não foi bem ela quem esqueceu. O ponto é que a gente nunca chamou o macaquinho de macaquinho, e sim de filho – devido a uma gravidez psicológica que a Bere teve e pegou o tal macaco para criar. Mas mesmo assim, o onisciente estava lá, dentro das nossas cabeças sabendo que “filho” era o macaco, e me mostrou um filho da Bere, ainda com os dois olhos e sem o pescoço costurado, por R$29,90 no Pet shop da Batel. Mas a bota? Nada.

Definitivamente meu Google está estragado, e pior, não tem nem SAC para reclamar da falha de prestação de serviços da espionagem. Em uma última tentativa de achar a tal bota, escrevo por aqui: BOTA – BOTINHA – AMARELA – GALOCHA – COTURNO. Vamos ver se agora vai.

foto: @art.hausen

Por Raisa Gradowski
18/05/2021 18h35