O maior e melhor filme de máfia que Scorsese já realizou

São mais de 60 anos de carreira e dezenas de longas-metragens que fizeram Martin Scorsese um dos maiores diretores da sétima arte. Títulos como “Os Bons Companheiros”, “Cassino” e “Os Infiltrados” cunharam a ele o título de um profundo conhecedor da máfia norte-americana. As três produções abordam esse universo com maestria, trazendo personagens memoráveis e cenas inesquecíveis. Porém, é em “O Irlandês”, sua quarta aventura no submundo do crime, que o diretor nos apresenta sua obra-prima do gênero e, quem sabe, de toda a sua filmografia.

“O Irlandês” é uma adaptação do livro “I Heard You Paint Houses”, de Charles Brandt, e traz o motorista de caminhão Frank Sheeran (Robert De Niro) como protagonista. Ao longo da película, acompanhamos Sheeran flertando e, aos poucos, crescendo dentro da máfia italiana nos Estados Unidos. Logo ele, o único personagem que não descende da “bota européia”.

Além de Sheeran, o filme também traz outros dois personagens importantes: Jimmy Hoffa (Al Pacino) e Russell Bufalino (Joe Pesci). Completando, ao lado de De Niro, a santíssima trindade de Scorsese. Acompanhamos o crescimento, a glória e a queda dessas três importante figuras da máfia em diferentes fases de suas vidas e, consequentemente, dos Estados Unidos. Muita maquiagem e efeitos especiais colaboram com o rejuvenescimento dos atores para ilustrar o início da carreira dos personagens, mas não podemos esquecer do mérito de cada um deles. Todos já na terceira idade – Pesci, inclusive, retornou de sua aposentadoria apenas para o filme -, os atores usam sua bagagem para viver brilhantemente esses personagens complexos e carismáticos.

Mas, independente de suas atuações maravilhosas, fotografia eficaz, trilha sonora assertiva e tantos outros méritos técnicos, o grande trunfo de “O Irlandês” reside no amadurecimento de seu idealizador. Aqui, Scorsese mostra que seu profundo conhecimento do gênero evoluiu e, diferente de suas obras antecessoras, a produção apresenta uma visão mais cruel e debochada da máfia.

Com muito humor ao longo de seus 210min de duração, o filme quebra inúmeras regras que o cinema do gênero estava acostumado a fazer. Já no início conhecemos um protagonista velho, cheio de arrependimentos e que vive em função do seu passado cruel. Frank (De Niro) não apenas tem de lidar com as consequências de sua vida perigosa, como tem de lidar sozinho, sem família ou amigos.

Em seu vigésimo quinto filme da carreira, Scorsese entrega sua obra-prima. Um filme maduro, que beira a perfeição e prova que o diretor está em sua melhor forma. Isso tudo, ao lado do time invejável que ele reuniu, desde atores já quase esquecidos pelo mercado e vivendo seus melhores papéis a profissionais que completam seu trabalho e entregam uma produção marcante e inesquecível.

Por Matheus Klocker
28/11/2019 01h48