O Ballet de Mr. Nilsson

Uma voz poderosa. Uma voz que era sinônimo de beleza e potência numa música e de seguidos dias de festa longe de casa num convite. Entre hits, uma carreira conturbada, lindas canções, standards e muita energia está Harry Nilsson.

Harry Edward Nilsson III nasceu em Nova York em 1941. Dono de uma das mais belas vozes do rock, Harry viveu sua carreira como quis: experimentou diferentes produções em seus discos, passou quase toda vida longe dos palcos e avesso a apresentações ao vivo e se aventurou no cinema e até em desenhos. No seu auge preferiu gravar clássicos com uma orquestra a tentar emplacar outro discão. Harry — que era amigo, fã e ídolo dos Beatles — conseguiu seu primeiro grande sucesso em 1969, quando o filme “Perdidos na Noite” teve como tema sua versão de ‘Everybody’s Talkin’.

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Essa música, contudo, havia sido lançada no ano anterior. Em 1968, Harry Nilsson lançou seu segundo disco: Aerial Ballet. Depois do ótimo Pandemonium Shadow Show, de 1967, Harry voltou ao estúdio com várias canções e mais maduro para produzir seu segundo trabalho. Tendo a inspiração para o nome do disco a trupe circense de seus avós, o Aerial Ballet traz as belas composições de Harry unidas a suas fortes interpretações.

Se o único cover do disco, ‘Everybody’s Talkin’, foi a música de maior sucesso, outro destaque é uma música que rendeu muitas versões. ‘One’, uma canção sobre solidão de ótima letra, ficou famosa primeiro com a banda ‘Three Dog Night‘. Essa versão, porém, tem uma interpretação diferente dos sentimentos presentes na versão de Nilsson. O arranjo de cordas e teclas e a interpretação de Nilsson definem a sensação de solidão.

Harry mostra toda sua habilidade de criar belas canções, tanto em suas letras quanto em suas melodias. As dúvidas e incertezas de uma relação que começa — e acaba — está em ‘Together’. E quando a tristeza é bela surge a melancolia, como em ‘I Said Goodbye to Me‘, que é uma despedida pessoal de tudo. Harry revela-se muito versátil em suas composições. Além de canções sobre sentimentos, ele também conta histórias. Em ‘Mr. Richland’s Favorite Song‘, Harry fala sobre a relação de um artista e seu público que o idolatra e que também o abandona. De forma parecida, ‘Mr. Tinker‘ conta a história  de um alfaiate. História tristes musicadas em belas melodias. 

Além de tudo, o Harry contador de histórias não se priva se tratar sobre a sua própria vida. Ele apresenta a história de como, ainda muito jovem, teve a família abandonada pelo pai. Com o seu humor quase britânico, ‘Daddy’s Song‘ abre o disco e conta essa história familiar de forma às vezes alegre, às vezes irônica. O curioso é que essa música não foi incluída no lançamento original do disco para não competir com a versão dos Monkees. Monkees, alias, que já haviam feito sucesso com a ‘Cuddly Toy‘, também composição de Nilsson. Outra música que veio da sua vivência familiar é a ‘Little Cowboy‘. Como ele mesmo conta, trata-se de uma canção de ninar cantada por sua mãe.

The Wailinf of the Willow‘ surpreende ao trazer um certo gosto de bossa nova em seu arranjo e também por ter Harry cantando num tom mais baixo do seu habitual. Já ‘Good Old Desk‘ surpreende na sua temática: tão simples quanto a velha e boa escrivaninha. ‘Don’t Leave Me Baby‘ é um dos pontos altos do disco. Aqui Harry explora uma das suas principais qualidades: transformar a dinâmica da música. Com a sua voz e o arranjo, a música possuiu uma crescente que resulta num ótimo refrão. ‘Bath’, a música que fecha o disco, nos mostra um pouco da vida do Harry. É a mesma sensação que temos em outras músicas dele: nós festamos até não aguentar para voltar para casa e nos prepararmos para mais. É a explosiva mistura de excitação, exaustão e, também, fuga.

E esse estilo de vida, um tanto autodestrutivo, foi muito forte na vida de Nilsson. Um artista que conseguiu estar entre os melhores tanto como compositor quanto como interprete e que, mesmo sendo um compositor pop, jamais se preocupou com o sucesso. Seu talento, seu carisma e sua personalidade o fizeram um artista único e indomável.

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Por Vinicius Vianna
09/06/2015 15h58