Não é de hoje que os estúdios norte-americanos vêm se empenhando em ampliar universos e criar novas sagas cinematográficas. Já acompanhamos isso com super-heróis, vampiros, futuros utópicos, carros e assassinos letais. Tudo é cabível para promover novas versões, sejam continuações, prequelas ou fragmentações. Chegou a hora do macaco gigante mais famoso do mundo entrar nessa onda com a estreia de Kong: A Ilha da Caveira, que estará em cartaz em todos os cinemas brasileiros a partir desta quinta, 9 de março.
King Kong já apareceu nas telonas três vezes: em 1933, 1976 e a mais recente em 2005, todas elas contam com o enredo da equipe de filmagem chegando à Ilha da Caveira para a gravação de um filme e lá acabam encontrando King Kong, fascinados com tal criatura acabam capturando-o e levando para Nova York. Agora recebemos uma releitura do que conhecemos e que promete tomar rumos bem diferentes.
Aqui em Kong: A Ilha da Caveira somos apresentados a um grupo de exploradores liderados por Bill Randa (John Goodman) que conseguem a liberação para viajar até a totalmente desconhecida Ilha da Caveira, para tal expedição são acompanhados pelo exército e seu coronel Packard (Samuel L. Jackson), o rastreador James Conrad (Tom Hiddleston) e a fotojornalista Mason Weaver (Brie Larson). Só que o que era para ser apenas um reconhecimento se torna numa luta pela vida e tentativa de retorno ao “mundo real” ao se depararem com as criaturas que habitam o lugar, reinado por um “jovem” Kong. Quem também habita o local em meio da tribo nativa é Hank Marlow (John C. Reilly), combatente do exército perdido lá há décadas e que agora encontra a grande chance de retornar para casa.
Se o elenco é renomado e competente, não se pode dizer o mesmo do diretor e roteiristas que são bem dizer estreantes apresentando diversos erros de principiantes. Jordan Vogt-Roberts assume a direção de uma grande produção pela primeira vez na carreira (anteriormente havia dirigido um filme independente e alguns episódios de séries) e se mostra um grande apreciador do gênero de ação já que recriou várias sequências que remetem muito às películas de guerra e jogos virtuais, dando assim zero identidade ao filme.
O roteiro e a criação da história parte de três mentes: Dan Gilroy (dirigiu e roteirizou ‘O Abutre’), John Gatins (roteirista de ‘O Voo’ e do ainda não lançado ‘Power Rangers’) e Max Borenstein (responsável pelo roteiro de Godzilla). Não podemos negar que tudo o que foi criado em torno do Kong é incrível, a Ilha em si é belamente retratada assim como todos os animas “exóticos” que ali vivem. A opção por se passar na década de 70 logo após a Guerra do Vietnã e em meio à Guerra Fria se mostra acertada, rechaça a gana dos americanos de permanecer no topo e de sempre serem os melhores em tudo (figurado no exército que almeja o local só para eles e a derrota de todos que lá se encontram).
Entretanto, o roteiro é raso e não conseguimos se aprofundar nas origens e em como tudo aquilo é possível no lugar, são tantas histórias e grupos dispersos para focar que os roteiristas acabaram por esquecer de focar no personagem principal e na tal ilha que encabeçam o titulo do longa. Para todos os caminhos colocados em tela existem as saídas mais simples e óbvias possíveis, a superficialidade toma conta de um universo que tem muito o que ser explorado. A tribo local não tem utilidade nenhuma, assim como os animais gigantescos não passam de atrativos invés de possíveis antagonistas. Por que razão a Ilha da Caveira é assim? E toda a explicação de que o planeta Terra não pertence aos humanos? Pelo jeito teremos que esperar mais uns anos para descobrir.
Se por um lado Kong: A Ilha da Caveira não alcança a alcunha de grande produção memorável devido à direção despretensiosa e um roteiro superficial, ainda assim consegue ser um belíssimo filme fantasioso de ação com um clima tenso no ponto. Os efeitos gráficos são absurdos e beiram a perfeição, tendo em vista que boa parte da produção se baseia nisto, a ambientação é magnífica e a trilha sonora é muito bem encaixada. Mostrar um Kong mais jovem, ainda sem ser o tal rei (King) foi uma ótima sacada e principalmente fugir da história que todos nós já conhecemos dele. As batalhas remetem até demais à Godzilla só que com um tom mais fresco e leve, ritmo que se segue por todo o filme e o torna fácil de digerir.
Mais que necessário fazer um spoiler de leve para citar os acontecimentos pós-créditos e até mesmo o futuro deste universo, sabendo da existência de uma continuação para Godzilla agendada para o ano que vem e de um King Kong vs. Godzilla em meados de 2020. Ao fim de todos os créditos somos colocados a par de imagens do próprio Godzilla e seus companheiros de longa data: Mothra (borboleta gigante), Rodan (pterodátilo dragão) e King Ghidorah (dragão de três cabeças). Para os amantes das criaturas japonesas isso é de um fascínio gigante, pois abre a possibilidade real de acompanharmos todos eles nas telonas, porém onde que o King Kong se encaixa aí? Sinceramente, é bem difícil saber.
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