Em “Era Uma Vez em… Hollywood”, Tarantino apresenta o seu filme mais pessoal

Desde que começou a ode cinéfila em relação a filmes estrangeiros e automaticamente menos genéricos, o cinema Hollywoodiano, muito embora riquíssimo, começou a parar de ser o centro das atenções. Claro que existem muitos talentos americanos e ótimas produções, mas é inegável que a qualidade tem caído com fórmulas repetidas e inúmeras adaptações de quadrinhos. Com isso, a fábula presente em Era Uma Vez em… Hollywood tinha uma boa oportunidade de homenagear, mas principalmente, criticar a indústria americana, que durante muito tempo foi, e ainda é, preconceituosa . Mas ao invés disso, o 9º filme de Quentin Tarantino joga no lixo todas as oportunidades de fazer cinema.

O filme narra a história de Rick Dalton (DiCaprio) e seu dublê, Cliff Booth (Brad Pitt), tentando se estabilizar numa Hollywood no fim da década de 60. Para conseguir fazer seus nomes, eles conhecem diversas estrelas do cinema como Steve McQueen, Bruce Lee e a atriz em ascensão Sharon Tate (Margot Robbie), na época grávida do diretor Roman Polanski. E no fundo de tudo isso ainda tem os assassinatos da Família Manson.

Uma história e tanto que tinha tudo para ser uma excelente homenagem e, ao mesmo tempo, uma crítica a muitos dos ideais capitalistas da indústria cinematográfica americana. Mas é aí que Tarantino errou. Ele não só homenageia os principais erros que a indústria cometia como também os replicou. Xenofobia e misoginia são os mais problemáticos. Um close bem fechado nas nádegas de Sharon Tate são os primeiros segundos de Robbie na tela. Assim como a encenação cafona e xenofóbica de Bruce Lee. Tarantino pegou todos os estereótipos grotescos dessa antiga Hollywood e os reproduziu. Além disso, o desperdício de Margot no filme é arrasador, uma vez que a atriz tinha mais do que total capacidade de fazer uma personagem feminina bem desenvolvida. Mas não. Tarantino prefere se aprofundar na vida fracassada de Rick Dalton (que embora tenha uma boa atuação, DiCaprio não surpreende em nada), repetindo piadas e sarcasmos sempre quando conveniente.

Brad Pitt é um dos poucos pontos positivos. Mesmo não sendo novidade o ator interpretar esse tipo de personagem, ele dá o ar da graça com algumas ótimas cenas de ação e bons diálogos. Entretanto, mais uma vez, o diretor perde a mão. Um pequeno spoiler à frente. COMEÇO DE SPOILER: o personagem de Pitt é suspeito de matar a esposa. E o que fazem com isso? Transformam o cara num herói badass ao final do longa – FIM DO SPOILER.

Além de todos esses problemas de direção, o roteiro não faz jus a outras produções do diretor. Embora criativo ao tentar relacionar a indústria do cinema com os assassinatos da família Manson, a história fica sempre no lugar comum. E não podemos deixar de lado o chatíssimo fetiche de Tarantino por pés, potencializado infinitamente nesse filme e que não tem nenhuma serventia real a narrativa.

Tá, mas existem bons momentos? Sim. Mas são poucos. Dentre eles a cena em que Sharon Tate assiste a um filme que ela atua em meio à multidão. Uma cena simples, mas belíssima. E o outro é o ato final (que não darei spoilers). Além disso, a trilha sonora e a fotografia conseguem fazer um bom trabalho.

Tarantino fez desse, o seu filme mais pessoal. E não mostrou algo muito bom. Afinal, não devemos homenagear maus-hábitos do cinema sessentista/setentista.

Crítica por Guilherme Carraro, especial para o Curitiba Cult.

Por Curitiba Cult
05/02/2020 13h52