Domingo com Poty

No último domingo, convenci minha irmãzinha de oito anos e nosso pai a fazer um programa cultural a céu aberto. Há algum tempo encontrei, em meio às minhas coisas, um mapa com as diversas obras do Poty Lazzarotto espalhadas por Curitiba. 

Foto: Luíza Guimarães

O Poty by bike é um roteiro oficial do Instituto Municipal Curitiba Turismo, divulgado em 2015 como parte da Coleção Roteiros Turísticos.O mapa traça um caminho de bicicleta, interligando as obras a céu aberto de Poty Lazzarotto espalhadas pela capital paranaense. 

Antes que você pense em mim e minha família como atletas de elite, permita-me desiludir: fizemos o tour de carro. Achamos melhor, pois tínhamos uma criança de oito anos e um jogo do Atlético Paranaense às 16h para considerar. 

Meu pai, atleticano roxo, não ia perder o jogo para ficar caçando obra de arte pelo centro da cidade. Paciência de criança também tem limite, então me dei por satisfeita com as duas horas que meus companheiros de percurso disponibilizaram para minha ideia.

Minha irmã não conhecia Poty. Saindo de casa, li para ela algumas informações sobre o artista. As datas antigas e a carreira dele não pareceram muito impressionantes para ela, que apenas assentiu e seguiu viagem.

Nossa primeira parada foi no Grupo Escoteiro Marechal Rondon. Localizado praticamente dentro do Bosque João Paulo II, ele abriga a primeira obra do trajeto: um mural em azulejos em homenagem ao movimento escoteiro.

Acostumados com a tecnologia como somos, colocamos o endereço no Google Maps. Demos com a cara na porta, ou melhor, no portão. Tudo fechado. 

Antes que meus companheiros perdessem o pouco ânimo que haviam juntado até então, resolvi recorrer ao mapa analógico que tinha em minhas mãos. Estacionamos e seguimos, ao som de música mexicana no restaurante ao lado, pela ciclovia. 

Era para ser um tour de bicicleta, afinal de contas. 

Seguimos em frente, olhando em direção aos portões fechados do Bosque do Papa. Será que pegamos o caminho errado?, perguntou meu pai. Estávamos quase no final da estrada quando, ao olhar para o lado, encontrei o mural de azulejos.

Foto: Luíza Guimarães

“Sempre alerta”, diz a inscrição. O lema dos escoteiros. Será que, se fossemos escoteiros, teríamos encontrado o mural mais depressa?

Apontei a obra de arte para meus companheiros. Minha irmã riu com a nossa falta de atenção, apesar de, provavelmente, não ter entendido a ironia de estarmos desatentos justo neste mural.

Achei um ótimo início para o tour. Te convida a ficar alerta, a perceber que as obras de um grande artista como Poty Lazzarotto fazem parte da nossa paisagem curitibana. Passamos em frente a elas com tanta frequência que, por vezes, nos esquecemos de vê-las.

Consegui me surpreender até mesmo com o mural na fachada do Teatro Guaíra, um que eu vejo com frequência por conta de meu trabalho com a Orquestra Sinfônica do Paraná. Nunca tinha reparado que o mural retrata o teatro no mundo, desde a Grécia Antiga, até o teatro mambembe, passando por Shakespeare e seu famoso “Ser ou não ser”, de Hamlet.

Encontrar as obras espalhadas pela cidade nos trouxe a sensação de caça ao tesouro, de descoberta. Com empolgação de todos, principalmente do membro mais novo do grupo, renovada, seguimos em frente.

Tropeiros e gralhas azuis

Foto: Luísa Guimarães

Passamos pelo Palácio Iguaçu e pela Praça 19 de dezembro. Os murais desses dois espaços retratam, de maneiras diferentes, a história do Paraná. 

Minha irmã, que antes não sabia o que era gralha azul e só conhecia tropeiro por conta de uma aula de história na escola, saiu com a capacidade de lecionar sobre o assunto.

Nosso pai sempre gostou de história. Me lembro quando, aos 10 anos, ele me levou para o Museu Paranaense e me deu uma verdadeira aula. Cheguei na escola na segunda-feira como a própria Hermione Granger, levantando a mão cada vez que a professora abria a boca pra falar sobre o nosso estado. 

Aprender pela experiência é uma oportunidade única para crianças (e adultos também). Livros e salas de aula têm seus poderes, mas poder explorar ao vivo nos desperta a curiosidade e fixa o conhecimento na memória de maneira inigualável.

O ensino de história no Brasil é, em geral, muito bom. Conheço pessoas de outros países que sabem menos da história do mundo – que dirá da história brasileira – do que crianças da quinta série em nosso país. No entanto, pouco me lembro de aprender sobre a história do Paraná.

À exceção da aula que monopolizei na quarta série, não me lembro de ter aprendido muito mais sobre a história paranaense ou curitibana na escola. Ainda assim, é essa a história da cidade e do estado onde nasci e onde minha família mora há, pelo menos, três gerações. 

É uma história que faz parte das nossas raízes e que, como toda a história, vale a pena ser conhecida. As obras de arte de Poty espalhadas pela cidade retratam a diversidade da nossa população, tropeiros, indígenas, pessoas que imigraram voluntariamente e pessoas que imigraram capturadas, para trabalhar como escravos. 

Foto: Luísa Guimarães

O tour completo percorre não só o centro da cidade, mas também bairros como o Cajuru, Mercês e Alto da XV. Em nosso passeio, percorremos apenas as obras centrais e a Praça 29 de março.

Às 16h, perdemos um membro do grupo: o atleticano precisava voltar para casa e ver o jogo. Algumas obras ficaram para a próxima, mas o passeio cultural e histórico pela cidade foi uma ótima experiência para todos.

Fica aqui a dica de programa para fazer em família e ao ar livre nos fins de semana de sol. Vou deixar abaixo o mapa do trajeto completo para quem mais quiser embarcar nessa aventura.

Por Luiza Guimaraes
27/08/2021 16h15