Curitiba inaugura estacionamento na antiga Sociedade Operário, sede de bailes no estilo Pose

A Prefeitura de Curitiba inaugurou, na última sexta-feira (2), o SmartPark São Francisco, estacionamento inteligente com 94 vagas, em 3.236 metros quadrados, que vão funcionar 24 horas e terão ativação por meio do EstaR Eletrônico, sistema que funciona nas vagas rotativas em ruas da capital.

Antes de dar vida ao mais novo estacionamento da cidade, o terreno abrigou a histórica Sociedade Operário, que sediou muitos bailes no estilo dos representados na série  Pose, do canal FX. Você já sabia que essa cena de ballrooms LGBTQ e celebração da transexualidade acontecia aqui em Curitiba na mesma época em que a série televisiva se ambienta, em 1980?

Foto: Reprodução.

Sociedade Protetora dos Operários foi fundada em 1883 por Benedito Marques dos Santos, e seu crescimento permitiu a construção de um novo prédio no terreno do Alto de São Francisco. Quando Edgar Antunes da Silva (o carismático “Tatu”) tornou-se presidente da Sociedade em 1954, ela passou a sediar grandes bailes e ser referência dos carnavais de Curitiba. Um deles era o Gala Gay, surgido nos anos 60 — durante a ditadura militar no Brasil —, e marcando as segundas-feiras de carnaval da cidade até os anos 90. Também conhecida como Baile dos Enxutos, foi uma das festas mais importantes da cidade.

Em uma época e sociedade extremamente conservadoras, a marginalização da vida travesti era realizada principalmente por policiais. O decreto de lei nº 1.077, de 26 de janeiro de 1970, declarava que “os shows de travestis materializam um comportamento incompatível com a moral social constituindo-se em atos atentatórios ao pudor e ao decoro público”. Os carnavais eram a oportunidade perfeita para a realização das festas e desfiles na sociedade sem a atenção da polícia. No dia seguinte, os jornais ficavam lotados de fotos do evento.

Foto: Gala Gay e Misstrans – Uma História pra Contar.

O Projeto Olho Vivo documentou toda essa história em 28 minutos, contando também sobre  o concurso Miss Curitiba Trans, surgido em 2005 para celebrar os tempos de Gala Gay. Os sócios responsáveis Luciano Coelho e Marcelo Munhoz declararam que a intenção do Projeto é mostrar um lado da Curitiba modelo que não atende aos seus rótulos. Lançado na Cinemateca de Curitiba em 2010, o documentário ainda é super atual e pode ser assistido pelo VIMEO.

No início dos anos 2000 a sociedade teve seu fim e o local passou a ser somente uma casa de shows, entretanto, com sua estrutura comprometida por um incêndio, foi recentemente demolida. O investimento por parte da Prefeitura para a desapropriação da área foi de R$ 8,6 milhões, e a secretaria municipal de Administração e Gestão de Pessoal ficou responsável pela demolição com recurso de R$ 123 mil.

Quer saber mais da cultura dos ballrooms? Você pode assistir às duas primeiras temporadas de Pose na Netflix, enquanto a terceira não chega na plataforma. O documentário Gala Gay e Misstrans – Uma História pra Contar pode ser acessado aqui.

Por Julia Schneider
05/07/2021 12h35