Curitiba ganha estacionamento em espaço onde antigamente aconteciam Ballrooms no estilo Pose

O prefeito Rafael Greca anunciou em seu Instagram, no começo do mês de maio, a criação do Estacionamento Inteligente no Alto de São Francisco, terreno da demolida Sociedade Operário. Segundo sua publicação, a área agora asfaltada servirá aos espaços de gastronomia, à Feira de Artesanato e aos espaços culturais e públicos, com Estar fracionado a partir de 15 minutos até duas horas.

Como o último episódio da série Pose, do canal FX, vai ao ar neste domingo (06), não poderíamos deixar passar um pouco da história da Sociedade Operário. De Pose você já ouviu falar no CC, mas você sabia que essa cena de ballrooms LGBTQ e celebração da transexualidade acontecia aqui em Curitiba na mesma época em que a série televisiva se ambienta, em 1980?

Foto: Reprodução.

A Sociedade Protetora dos Operários foi fundada em 1883 por Benedito Marques dos Santos, e seu crescimento permitiu a construção de um novo prédio no terreno do Alto de São Francisco. Quando Edgar Antunes da Silva (o carismático “Tatu”) tornou-se presidente da Sociedade em 1954, ela passou a sediar grandes bailes e ser referência dos carnavais de Curitiba. Um deles era o Gala Gay, surgido nos anos 60 durante a ditadura militar no Brasil , e marcando as segundas-feiras de carnaval da cidade até os anos 90. Também conhecida como Baile dos Enxutos, foi uma das festas mais importantes da cidade. 

Em uma época e sociedade extremamente conservadoras, a marginalização da vida travesti era realizada principalmente por policiais. O decreto de lei nº 1.077, de 26 de janeiro de 1970, declarava que “os shows de travestis materializam um comportamento incompatível com a moral social constituindo-se em atos atentatórios ao pudor e ao decoro público”. Os carnavais eram a oportunidade perfeita para a realização das festas e desfiles na sociedade sem a atenção da polícia. No dia seguinte, os jornais ficavam lotados de fotos do evento.

Foto: Gala Gay e Misstrans – Uma História pra Contar.

O Projeto Olho Vivo documentou toda essa história em 28 minutos, contando também sobre  o concurso Miss Curitiba Trans, surgido em 2005 para celebrar os tempos de Gala Gay. Os sócios responsáveis Luciano Coelho e Marcelo Munhoz declararam que a intenção do Projeto é mostrar um lado da Curitiba modelo que não atende aos seus rótulos. Lançado na Cinemateca de Curitiba em 2010, o documentário ainda é super atual e pode ser assistido pelo VIMEO.

No início dos anos 2000 a sociedade teve seu fim e o local passou a ser somente uma casa de shows, entretanto, com sua estrutura comprometida por um incêndio, foi recentemente demolida. A negociação do terreno foi feita em 2020 pela prefeitura e a previsão é de que o novo Estacionamento Inteligente esteja em funcionamento em breve.

Quer saber mais da cultura dos ballrooms? Você pode assistir às duas primeiras temporadas de Pose na Netflix, enquanto a terceira não chega na plataforma. O documentário Gala Gay e Misstrans – Uma História pra Contar pode ser acessado aqui.

Por Julia Schneider
06/06/2021 12h21