Crítica: “Um Completo Desconhecido” acompanha crise existencial de Bob Dylan

Um Completo Desconhecido. Foto: Divulgação/Searchlight Pictures.
Foto: Divulgação/Searchlight Pictures

Da boina aos óculos escuros, Bob Dylan deu uma guinada na carreira nos anos 1960, trocando o folk que o consagrou por uma pegada mais roqueira e confrontadora. O começo da carreira, os relacionamentos e a mudança radical no estilo são o foco da cinebiografia “Um Completo Desconhecido”, que chega nesta quinta-feira (20/02) aos cinemas brasileiros. O filme está indicado a oito categorias no Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Thimotée Chalamet.

Se a feição de Thimotée no início ainda deixa alguma suspeita do bom preparo do ator, sua voz quebra qualquer dúvida. O ator fez um trabalho vocal para soar com Dylan, e é possível perceber como ele canta com uma voz que se assemelha ao do cantor e compositor de “A Complete Unknown”, canção que nomeia o filme. Thimotée interpreta um Dylan tímido no começo, ansioso para conhecer seu ídolo, Woodie Guthrie, internado em um hospital.

Início

Dylan se encontra com Woodie (Scoot McNairy) e Pete Seeger (Edward Norton), duas lendas de música folk norte-americana. Cantando uma música dedicada ao ídolo, Bobby encanta os dois e vira pupilo de Seeger. Enquanto isso, conhece a artista Sylvie (Elle Faning), e se apaixona. Ela é a personagem inventada para a biografia, mas que reflete relacionamentos passados do cantor e compositor.

Dylan passa por dramas no início da carreira, quando é forçado a gravar músicas de outras pessoas. Mas artistas como Joan Baez (Monica Barbaro) sabem de seu potencial. Insistindo na carreira autoral de Dylan, acabam conseguindo revelar o talento do artista para as letras.

Drama

Dylan tem um caso com Joan Baez, uma relação complicada que mina o namoro com Sylvie. Entre idas e vindas, brigas e romances, o cantor acaba também revelando outros interesses musicais. O filme acompanha a mudança de Dylan ao conhecer outras referências, com a explosão do rock e a Beatlemania chegando aos Estados Unidos. Sua fama como cantor folk o impede de viver como um desconhecido, e a guitarra elétrica aliada à revolta com questões sociais ganha novos contornos.

O filme demonstra bem como a música de protesto já fazia parte de Dylan na fase folk e caminha com ele para o rock, ganhando novos acordes. A crise existencial vem junto, com letras que refletem não só uma revolta com a sociedade como também uma busca por identidade. “Um Completo Desconhecido” falha em explorar os motivos dessa guinada, mas pelo menos consegue demonstrar de forma vívida as diferenças e como a fama afetou Dylan.

Direção

James Mangold retorna ao mundo da música. Ele já havia dirigido o elogiado “Johnny & June” (2005). Inclusive, Johnny Cash tem papel decisivo no filme ao trocar cartas com Dylan. Pelo diretor escolher um período muito específico da vida do artista, momentos que seriam breves dentro da história do compositor acabam se tornando maiores. O que é interessante e consegue mostrar a complexidade dessa fase dos anos 1960 que uma cinebiografia completa não daria conta.

O diretor não responde às perguntas em relação à essa mudança na carreira, mas dá pistas do que aconteceu com a vida de Dylan que poderiam resultar nisso. E, nessa jornada, traz cenas muito bem construídas e bonitas. Não chega a inovar em formato, mas é uma cinebiografia eficiente e interessante. A trilha sonora, como não poderia deixar de ser, é bem colocada e selecionada. E Mangold consegue atuações marcantes não só de Chalamet como de Monica Barbaro, que rouba a cena muitas vezes.

Por Brunow Camman
20/02/2025 10h27

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