Crítica: “O Brutalista” e as rachaduras do sonho americano

O Brutalista. Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação

A ambígua busca pelo sonho americano é vista com um peculiar ponto de vista em “O Brutalista”. O longa-metragem de Brady Corbet recebeu dez indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor ator para Adrien Brody. As mais de 3h30 acompanham o arquiteto judeu László Tóth de sobrevivente do Holocausto ao retorno às grandes construções arquitetônicas. O filme estreia no dia 20 de fevereiro nos cinemas brasileiros.

Narrativa

O filme é ficcional – inspirado por diferentes vivências de judeus arquitetos nos Estados Unidos – mas consegue ser tão bem construído que leva a crer que é uma biografia. A primeira parte do filme segue os primeiros passos de László saindo dos campos de concentração e chegando à América do Norte em 1947. Passando um tempo na casa de familiares, logo sua presença, carregada dos dramas do passado, se torna um empecilho. Aos poucos, o arquiteto consegue se destacar sozinho, chamando atenção de um magnata.

As cenas entre Adrien Brody como László e Guy Pearce como Harrison Van Buren mostram uma dinâmica bem construída entre os atores. Os diálogos dos dois são carregados de nuances e tensões, mostrando o talento dos atores.

Enquanto trabalha para Van Buren, László busca trazer aos Estados Unidos sua esposa e a sobrinha, separadas dele durante o domínio nazista. Essa busca por provas de parentesco culmina no intervalo da sessão, de quinze minutos, apresentando uma tela muito simbólica antes de revelar a segunda parte. Depois, o filme é marcado pela presença da esposa (Felicity Jones) e as dificuldades do arquiteto em manter o controle criativo do projeto.

Arquitetura

O filme consegue valorizar as cenas de László projetando prédios, elaborando desenhos inovadores e celebrando sua visão artística. Na segunda parte, os dramas pessoais acabam dominando a narrativa. Ainda assim, a visita para escolher o mármore de Carrara na Itália consegue trazer de volta a grandiosidade dos aspectos visuais do filme. Corbet escolhe bem as cenas de construção sendo apresentadas em um formato menor, mais dinâmico, representando o brutalismo que consagrou László.

Mas “O Brutalista” não é sobre arquitetura. E isso vai ficando cada vez mais claro quando a segunda parte inicia. Além dos traumas do Holocausto e a fuga do protagonista de lidar com sua dor, o longa ainda discute poder e a farsa do sonho americano. László e outros personagens enfrentam dificuldades marcantes como preconceito, xenofobia e violência. Aqui, o diretor deixa claro que há algo sinistro nessa busca pelo ideal do país em que qualquer pessoa pode se tornar um milionário apenas com o trabalho.

Van Buren, ressentido pela inteligência de László, deixa claro isso. A tensão entre os dois vai crescendo ao longo do filme, e o véu de admiração se torna raiva. O domínio da classe dominante sobre uma classe mais pobre é personificado na família Van Buren.

Esses dramas acabam sendo interessantes, mas o diretor desenvolve tantos caminhos que muitos não se fecham. Por exemplo, da sobrinha, que vive diversas situações dentro e fora da narrativa central que não são resolvidos de forma convincente. O que poderia valorizar o filme acaba sendo um empecilho. Ainda assim, a jornada de “O Brutalista” é interessante e especialmente bem construída na complexidade de László e de sua relação com Van Buren – em especial pelas atuações.

Por Brunow Camman
17/02/2025 17h30

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