Carnaval: a festa usada como desculpas para os desejos mais aflorados

O Carnaval é a época do ano escolhida para as pessoas extravasarem suas fantasias e desejos, reprimidos o resto do ano, sejam eles bons ou ruins. São os dias em que as sombras pessoais saem para sambar na avenida sem medo de julgamentos.

São os dias mais esperados do ano para viver personagens, munidos de suas fantasias, que se permitem fazer o que querem sem julgamentos de valor e livres de cobranças morais. É uma época para fugir dos sofrimentos, esquecer dos problemas e fingir que tudo está bem.

Pelo menos no Brasil, é a época do ano mais primitiva que há, é onde os instintos mais selvagens estão aflorados. A Psicologia explica esse fenômeno, segundo Freud, é neste momento de Carnaval que somos dominados pelo ID, que é uma parte da nossa psique mais selvagem e indisciplinada, todos os seres humanos possuem ID, muitos o controlam bem, mas é no Carnaval que várias pessoas o libertam e são tomadas pelos impulsos do prazer e conduzidos pelos desejos, e as consequências parecem muito distantes.

Podemos ver na avenida vários personagens incorporados, chamados por Jung de Arquétipos. Tem o masculino dominador, que é aquele cara bombado sem camisa tentando seduzir, ou atacar, qualquer mulher que ele ache atraente sem se preocupar se ela quer ser “seduzida” ou não.

Tem a mulher Afrodite sedutora, que são as mulheres que seduzem através do corpo, muitas podem escorregar para a vulgaridade, mas o objetivo é se sentir bonita, atraente e desejável. Mesmo que elas neguem o objetivo de seduzir e falem que estão só se divertindo, a linguagem corporal sempre falará mais do que as palavras ditas.

Tem também o louco, que se passa na bebida, na dança, na euforia e vive tudo em exagero sem medir as consequências.

Tem o palhaço que busca a aprovação dos outros através da palhaçada, de ser engraçado e fazer os outros rirem dele.

Tem o alquimista que proporciona sensações maravilhosas e afrodisíacas através de bebidas e drogas.

E ainda podemos ver o sábio que é aquela pessoa sensata que fala para não beber e dirigir, para usar camisinha e fazer sexo seguro, para se hidratar tomando bastante água e para passar filtro solar.

É também no carnaval que podemos percebemos outro fenômeno interessante: o poder do grupo sobre o indivíduo.

O Ser Humano é um Ser sociável que se relaciona constantemente e necessita de bons relacionamentos para ser feliz. Quando uma pessoa está em grupo, ela fica extremamente influenciável pela energia coletiva e tende a perder suas características pessoais, ficando propensa a apresentar comportamentos grotescos que teria vergonha de fazer se estivesse sozinha. Podemos dizer que o fenômeno de grupo é semelhante a uma hipnose, pois em ambos as pessoas são mais regidas pelo inconsciente e tem menos respostas racionais. Por exemplo, em grupo uma pessoa se sente forte o suficiente para quebrar um patrimônio público, coisa que não faria se estivesse sozinha. Infelizmente poucas pessoas usam o poder do grupo para fazer coisas boas e construtivas.

O Brasil é famoso por ser considerado o “país do Carnaval”, o país em que as pessoas são felizes e livres, porém se os brasileiros fossem tão felizes e livres como aparentam ser, aqui não teria tanto preconceito racial, religioso, homofobia e machismo. As pessoas não se incomodariam tanto com quem tem opiniões diferentes e haveria mais respeito.

Tanta inconsciência tem um preço que será pago depois do carnaval. É aí que vamos ver muita gente se desesperando ao verem os resultados positivos em testes de HIV e gravidez. Outras sofrerão ao ver a fatura do cartão de crédito ou ao terem que trabalhar na quarta-feira de ressaca.

É assim que percebemos que “curtir a vida” não é viver sem responsabilidade e sem consciência das consequências. Curtir a vida é ter autoconhecimento para ter autoestima e não se colocar em situações de risco, é saber do que você gosta e não do que você tem que fazer para ser aceito pelos outros. É viver para você e não para ter aprovação. E arriscar sua saúde definitivamente não é uma forma de curtir a vida.

Por Luiza Franco
28/02/2017 08h50