“Seria a palavra bicha, então, criada por esses próprios homens — gays — ou teria ela se originado fora de seu grupo social como um epíteto designado para questionar a masculinidade e imputar a efeminação?”
James Green, Além do Carnaval
Semana passada, eu comia no Subway enquanto um menino que eu acabara de conhecer no vôlei contava para mim e meu amigo suas preferências sexuais. Quando meu amigo revelou que preferia ser passivo, o garoto ficou chocado e disse: “Nossa, mas você parece tão hétero”. Com essa fala, eu percebi claramente — sim, eu já desconfiava — que a construção da sexualidade no Brasil está intimamente relacionada com o ideal de atividade e passividade no sexo.
Com a ajuda do livro Além do carnaval, de James Green, descobri que isso é um resquício da moral cristã que prega a atividade masculina sendo superior à passividade feminina durante o cópula. Até a explosão do movimento de liberação sexual em meados do século XX, às mulheres ainda não era permitido sentir prazer.
A moral de que o homem é ativo e a mulher é passiva, por ser penetrada, permeou os estudos sobre a homossexualidade e o imaginário social até meados da década de 1960. É aí que entra a noção de que bicha seria o gay efeminado, tido obrigatoriamente como passivo. Enquanto ativo, você seria HOMEM — ou na gíria atual, macho, independente de com qual gênero esteja se relacionando. Essa dicotomia prevaleceu no período higienista, em que a homossexualidade era um ismo de patologia psicológica.
Um exemplo dessa separação pode ser encontrada aqui — que apesar de ser uma página de humor, reproduz estereótipos e preconceitos. Outro exemplo é de um estudo do Instituto de Criminologia de 1938 sobre o comportamento homossexual em São Paulo. Na coleta, eles trazem a história de Zazá, um gay afeminado que vivia da prostituição. Um dos trechos do seu relato conta a sua confusão com o primeiro parceiro que teve. Em sua primeira vez, o seu parceiro foi ativo, o que, na mente de Zazá faria dele passivo para o resto da sua vida e, como consequência, desabrocharia o seu lado delicado, sutil e feminino
Antropólogos afirmam que essa percepção deturpada está relacionada ao fato do nosso sistema de gêneros ser hierarquizado. A imagem do bicha como um gay que desmunheca e possui traços femininos é ressaltada para contrastar com a masculinidade do macho heterossexual latino-americano.
Sistema social de Gênero |
Homem heterossexual |
Macho ativo |
Mulheres |
Bichas passivas |
Transexuais e travestis |
Quem nunca ouviu falar da figura folclórica de Madame Satã? Ela é um dos ícones da sub cultura gay do Rio de Janeiro.
Madame Satã era um afro-brasileiro conhecido pela malandragem e sua habilidade de se defender com uma faca nos becos da Lapa carioca. Ele começou sua carreira em bordéis da região, trabalhando como garçom em casas de prostituição, protegendo meretrizes contra estupros e agressões.
Ficou conhecido por enfrentar policiais por conta de ofensas proferidas contra homossexuais e travestis. Ganhou esse apelido quando venceu a competição de fantasias do Carnaval de 1942, incorporando a imagem de Madame Satã, do filme homônimo. Ela desafiava a imagem do malandro homem, masculino e heterossexual, uma vez que era um transformista homossexual afeminado.
“Madame Satã projetava imagens múltiplas, aparentemente contraditórias. Identificava-se como um malandro corajoso, disposto a lutar e até mesmo matar para defender sua honra. Contudo, era um bicha autodeclarado”, conta James Green.
Satã rompeu com os estereótipos e conexões da feminilidade e passividade, que supostamente determinavam os bichas.
A projeção de um movimento LGBT incipiente trabalhou para desconstruir esse estigma que pairava sobre o senso comum tanto da comunidade quanto brasileiro. Primeiro com o grupo Somos, que tinha integrantes como José Silvério Trevisan, e depois com tantos outros, a luta foi pela aceitação da diversidade dentro da comunidade.
Na teoria, a aceitação da diversidade sexual tem sido bastante trabalhada e tem trazido bastante resultado. Mas, na prática, a reprodução dos discursos “é afeminada, então é passiva”, “passiva louca” ao se referir a gays afeminados e “procuro macho discreto e ativo” prejudicam a luta pela desconstrução desse preconceito.
A comunidade queer já representa por si só, nesse panorama, uma transgressão das determinações de gênero. Faça como Madame Satã, desconstrua padrões.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em A Última Sessão, acompanhamos o menino Samay em sua descoberta do mundo mágico do cinema. Nessa história sensível, em uma cidade no interior da Índia, o menino de 9 anos assiste um filme no Galaxy Cinema e sua vida muda completamente e uma paixão feroz começa. Samay passa a faltar às aulas do colégio e a roubar um pouco de dinheiro da casa de chá de seu pai para assistir filmes. Com um desejo enorme de se tornar cineasta, Samay conhece Fazal, o projecionista do cinema e os dois fazem um acordo: Samay traz para Fazal as deliciosas comidas preparadas por sua mãe, enquanto Fazal permite que Samay veja infinitos filmes todos os dias na sala de projeção. Uma amizade profunda é forjada pelos dois e, logo, é colocada a teste graças a escolhas difíceis e transformações nacionais importantes. Agora, para perseguir seu sonho, Samay deve deixar tudo o que ama e voar para encontrar o que mais deseja.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em Marcello Mio, Chiara (Chiara Mastroianni), filha dos icônicos Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve (Catherine Deneuve), é uma atriz que vive um verão de intensa crise existencial. Insatisfeita com sua própria vida, ela começa a se questionar sobre sua identidade e, em um momento de desespero, afirma a si mesma que preferiria viver a vida de seu pai, uma lenda do cinema, do que enfrentar a sua realidade. Determinada, Chiara começa a imitar Marcello em tudo: veste-se como ele, adota seu jeito de falar, respira como ele. Sua obsessão é tamanha que, com o tempo, as pessoas ao seu redor começam a entrar nessa sua estranha transformação, passando a chamá-la de Marcello. Em um jogo de espelhos entre passado e presente, Marcello Mio explora a busca por identidade, legado e o impacto da fama na vida pessoal de uma mulher perdida em sua própria sombra.
Data de Lançamento: 11 de dezembro
O grupo de K-pop NCT DREAM apresenta sua terceira turnê mundial nesse concerto-documentário único. Gravada no icônico Gocheok Sky Dome, em Seul, a apresentação reúne um espetáculo vibrante, com coreografias e performances extraordinárias. O filme ainda conta com cenas de bastidores, mostrando o esforço depositado para dar vida a um show dessa magnitude. O concerto se baseia na história do Mystery Lab, um conceito cunhado pelo grupo. NCT DREAM Mystery Lab: DREAM( )SCAPE dá o testemunho de uma grandiosa turnê.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Queer é um filme de drama histórico dirigido por Luca Guadagnino, baseado na obra homônima de William S. Burroughs e inspirado em Adelbert Lewis Marker, um ex-militar da Marinha dos Estados Unidos. A trama segue a vida de Lee (Daniel Craig), um expatriado americano que se encontra na Cidade do México após ser dispensado da Marinha. Lee vive entre estudantes universitários americanos e donos de bares que, como ele, sobrevivem com empregos de meio período e benefícios do GI Bill, uma lei que auxiliou veteranos da Segunda Guerra Mundial. Em meio à vida boêmia da cidade, Lee conhece Allerton (Drew Starkey), um jovem por quem desenvolve uma intensa paixão. O filme explora temas de solidão, desejo e a busca por identidade em um cenário pós-guerra, com uma ambientação que retrata fielmente a atmosfera da Cidade do México nos anos 1950.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
A Different Man, é um thirller psicológico, dirigido e roteirizado por Aaron Schimberg, terá a história focada no aspirante a ator Edward (Sebastian Stan), no qual é submetido a passar por um procedimento médico radical para transformar de forma completa e drástica a sua aparência. No entanto, o seu novo rosto dos sonhos, da mesma forma rápida que veio se foi, uma vez que o mesmo se torna em um grande pesadelo. O que acontece é que, por conta da sua nova aparência, Edward perde o papel que nasceu para interpretar. Desolado e sentindo o desespero tomar conta, Edward fica obcecado em recuperar o que foi perdido.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
As Polacas é um drama nacional dirigido por João Jardim e selecionado para o Festival do Rio de 2023. O filme é inspirado na história real das mulheres que chegaram ao Brasil vindas da Polônia em 1867 com a esperança de uma vida melhor. Fugindo da perseguição aos judeus e da guerra na Europa, o longa acompanha a saga de Rebeca (Valentina Herszage), uma fugitiva polonesa que vem ao Brasil com o filho, Joseph, para reencontrar o esposo e começar a vida do zero. Porém, as promessas caem por terra quando, ao chegar no Rio de Janeiro, a mulher descobre que o marido morreu e, agora, está sozinha em um país desconhecido. Até que seu caminho cruza com o de Tzvi (Caco Ciocler), um dono de bordel envolvido com o tráfico de mulheres que faz de Rebeca seu novo alvo. Refém de uma rede de prostituição, Rebecca se alia às outras mulheres na mesma situação para lutar por liberdade.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Do aclamado diretor Alejandro Monteverde, conhecido por Som da Liberdade, Cabrini, narra a extraordinária jornada de Francesca Cabrini (Cristiana Dell’Anna), uma imigrante italiana que chega a Nova York em 1889. Enfrentando um cenário de doenças, crimes e crianças abandonadas, Cabrini não se deixa abater. Determinada a mudar a realidade dos mais vulneráveis, ela ousa desafiar o prefeito hostil em busca de moradia e assistência médica. Com seu inglês precário e saúde fragilizada, Cabrini utiliza sua mente empreendedora para construir um império de esperança e solidariedade. Acompanhe a ascensão dessa mulher audaciosa, que, enfrentando o sexismo e a aversão anti-italiana da época, se torna uma das grandes empreendedoras do século XIX, transformando vidas e deixando um legado de compaixão em meio à adversidade.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em Kraven – O Caçador, acompanhamos a história de origem de um dos vilões da franquia Homem-Aranha. De origem russa, Kraven (Aaron Taylor-Johnson) vem de um lar criminoso e de uma família de caçadores. Seus poderes nascem de uma força sobrenatural e super humana que o faz um oponente destemido e habilidoso. A relação complexa com seu pai Nicolai Kravinoff (Russell Crowe) o leva para uma jornada de vingança e caos para se tornar um dos maiores e mais temidos caçadores de sua linhagem. De frente para questões familiares, Kraven mostra sua potência nesse spin-off.