“Adoráveis Mulheres” discute o papel da mulher na sociedade patriarcal

Clássico da literatura estadunidense, “Adoráveis Mulheres” já passou por diversas adaptações para o cinema. A primeira delas data de 1917, e a mais célebre – até o momento – rendeu a Winona Ryder uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz em 1994. Publicado pela primeira vez em 1868, o conto de Louisa May Alcott chega a 2020 com uma nova versão, reformulada para o século 21.

Dirigido e roteirizado por Greta Gerwig com base na obra original de Alcott, “Adoráveis Mulheres” acompanha as irmãs Jo March (Saoirse Ronan), Beth March (Eliza Scanlen), Meg March (Emma Watson) e Amy March (Florence Pugh) da infância à vida adulta, mostrando suas alegrias e desventuras enquanto os Estados Unidos atravessam a Guerra Civil. Donas de personalidades radicalmente diferentes, as irmãs enfrentam o desafio de permanecerem unidas com o avançar dos anos e as escolhas de vida que fazem.

Sem interesse pela vida doméstica e ansiosa para transpor as barreiras sociais impostas ao seu gênero, Jo tem a ambição de se tornar uma escritora. Meg, a mais velha, deseja uma existência tradicional, com marido e filhos. Amy, a mais jovem e mimada das irmãs, almeja se tornar uma celebrada pintora, e Beth, tímida, demonstra talento para a música. Jo, Amy e Meg partem da casa dos pais para perseguir seus sonhos, mas são convocadas de volta quando a saúde de Beth, debilitada desde a infância, se agrava.

Majoritariamente narrado pelo ponto de vista de Jo e dividido em duas linhas temporais, o roteiro de Gerwig faz pequenos desvios para as vivências das demais irmãs March, possibilitando que elas também assumam o protagonismo em determinadas passagens. Isso permite que Meg, Amy e Beth se tornem mais que arquétipos que compõem a história de Jo. Elas ganham vida própria, com esperanças, desejos e medos palpáveis.

Gerwig encontra formas atuais de lidar com os temas propostos por Alcott. Apesar de parecer ser apenas uma história de amadurecimento, “Adoráveis Mulheres” vai tratar do papel social da mulher e dos obstáculos que elas enfrentam para avançar em uma estrutura patriarcal. Do pouco incentivo para que meninas busquem educação formal e carreiras profissionais, ao casamento, esta instituição que pode se tornar uma jaula para aquelas sem independência financeira. A principal temática de “Adoráveis Mulheres” é a liberdade – ou a libertação – feminina, independentemente da forma como elas se apresentam.

Merecem destaque também a direção de arte, direção de fotografia, figurino, montagem, em suma, todos os aspectos técnicos de Adoráveis Mulheres, que são executados com perfeição. A direção de Gerwig é especialmente bem-sucedida ao estabelecer uma atmosfera familiar e aconchegante, que mesmo nos momentos mais dramáticos para a família March, nos convida a tomar parte nas histórias daquelas personagens.

Com comoventes atuações de Saoirse Ronan, Florence Pugh, Laura Dern e Timothée Chalamet, se torna impossível desviar os olhos da tela, e difícil deixar aquele universo repleto de mulheres de fato adoráveis ao final das 2h15min de projeção.

Crítica por Luciana Santos, especial para o Curitiba Cult.

Por Curitiba Cult
09/01/2020 15h00