A24 retorna à fabula em “Tuesday: O Último Abraço”

Tuesday Foto Divulgação
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O uso da fantasia para tratar temas existenciais tem sido uma característica marcante nos lançamentos do cultuado estúdio A24. O tom de fábula em torno de “Tuesday: O Último Abraço”, traz esse clima para as telas mais uma vez. O primeiro longa-metragem escrito e dirigido pela croata Daina O. Pusic chega aos cinemas brasileiros em 01 de julho.

O realismo fantástico, tão presente na literatura e na cultura latino-americana, parece ter encantado de vez os norte-americanos. Outros filmes da A24 já exploraram essa estética como “Sombras da Vida” e “Lamb”, e agora “Tuesday” segue nessa direção. O filme traz Zora, uma mãe que se vê vendendo objetos da casa para manter o tratamento da filha Tuesday, que tem uma doença terminal. Uma arara vermelha, representando a morte, aparece para buscar a garota, que conversa com o animal e consegue alguns minutos de vida para conversar com a mãe. Zora, ao encontrar a arara, faz de tudo para defender a filha de seu encontro com a morte, independente de consequências.

Atuação

A história não esconde seu teor derrotista, já deixa logo de cara o fatalismo da condição de Tuesday. Quem não aceita não é o espectador, e sim a mãe. Zora já perdeu o emprego, mas sai de casa e deixa a garota ao guardo de uma cuidadora que ela mal pode pagar. A interpretação brilhante de Julia Louis-Dreyfus em um de seus poucos papeis dramáticos (ainda que cheio de pequenas piadas) consegue dar mais dramaticidade e nuances aos fatos. Por vezes, o roteiro parece forçar situações pouco interessantes que sua atuação consegue equilibrar.

Lola Petticrew também está boa como a filha, em suas discussões ora leves, ora tensas com a morte, na voz profunda e com um toque desnecessário de alteração digital, de Arinzé Kene. A adolescente enfrenta o fato de que vai morrer, e vai se agarrando à vida para poder confortar a mãe sobre a própria morte.

Reviravolta

Tuesday mostra compaixão pela arara que encarna a morte. O animal, geralmente colorido, está maltratado, sujo, machucado. Ela dá banho e renova no pássaro uma certa alegria. Zora tira isso da arara ao tentar proteger a filha. Aprisionando o pássaro, ninguém mais consegue ser levado da Terra depois de morto. Essa consequência é pouco explorada no longa e, quando se tenta, fica desconexo. Parece um desvio de rota que tira o ritmo do longa. É como se acontecesse um “Incidente em Antares”, clássico romance de Érico Veríssimo, e só pudéssemos ter um pequeno capítulo dessa história enquanto acompanhamos mãe e filha.

Contudo, essa jornada de mãe e filha e morte consegue emocionar, mesmo com certos tropeços. O texto por vezes tem seu brilhantismo, temperado por Julia Louis-Dreyfus. A computação gráfica por trás da arara é bem aceitável e não distrai.

Luto

A diretora Daina tinha tratado em um curta anterior, “The Beast”, e questão de mãe e filha (no caso, a mãe doente) visitadas por um animal voador: um morcego. No curta, há mais tensão entre as duas e menos fantasia, um drama quase thriller sobre a relação complicada das duas. A temática parece um interesse grande da diretora, mas que é tratado com mais ternura em “Tuesday”.

A aceitação do luto trazida pela diretora com toque fantástico é especialmente inovadora para o público norte-americano, e bem feito para agradar e emocionar qualquer espectador.

Por Brunow Camman
20/07/2024 10h00

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