A efêmera vida de Domingos Montagner

De forma inesperada e trágica, o ator Domingos Montagner faleceu na tarde desta quinta-feira (15). Vítima de um afogamento no Rio São Francisco, onde gravava cenas da novela Velho Chico, o ator foi levado pela correnteza após um mergulho no Rio São Francisco e não conseguiu retornar. Montagner era de um talento raro, rude, dos modelos de atores que conseguiam unir bravura sem parecer piegas. Sua base de atuação foi no circo, espaço que nunca deixou de frequentar.

Chegou à Globo para ocupar uma lacuna cada vez mais difícil de ser preenchida. Atores talentosos, maduros, ainda galãs e que fotografavam bem. Monotemática como é na maioria dos casos, seus papéis em séries e minisséries sempre foram guiados por caminhos de dureza e valentia. Uma espécie de Clint Eastwood local. Foi assim em Cordel Encantado, Salve Jorge, O Brado Retumbante e Sete Vidas. No cinema, somente em 2016, quatro longas contam com a presença do ator, entre eles o recém estreado “Um namorado para minha mulher”. No circo, sua base dramatúrgica, além de atuar, dirigiu e comandou espetáculos diversos.

Débora Bloch e Domingos Montagner, em Sete Vidas. Foto:João Miguel Júnior/TV Globo

Débora Bloch e Domingos Montagner, em Sete Vidas. Foto:João Miguel Júnior/TV Globo

Acaso ou não, Domingos Montagner teve quase o mesmo destino de seu personagem Santo, em Velho Chico. Não teve a mesma sorte do personagem, que na trama, foi resgatado e se recuperou. Difícil não se colocar no lugar dos profissionais que precisam encerrar um trabalho da dimensão de uma novela das nove com a perda do protagonista. Difícil não encarar com certa perplexidade a impotência humana frente à força da natureza. É um exercício diário de entender que a vida é, sim, rara, efêmera e pequena. Poeira. Santo sai de cena mais cedo e leva com ele Domingos. Personagem que se confunde com o ator e deixa um rasgo no peito de que tudo é plástico. Na novela, o Rio era visto e tratado como entidade, a quem atores e personagens aprenderam a vê-lo como Deus maior. Agora, as águas que brindaram o talento de Domingos, embalam o seu sono.

Gabriel Leone e Domingos Montagner em Velho Chico. Foto: Renato Rocha Miranda/TV Globo

Gabriel Leone e Domingos Montagner em Velho Chico. Foto: Renato Rocha Miranda/TV Globo

Por William Saab
15/09/2016 22h14