Deserto Particular: cenas de amor entre pessoas de gêneros diferentes como você nunca viu no cinema

Foto: Divulgação

Por Sandra Nodari

Cenas de afeto, como poucas vezes vemos no cinema, são protagonizadas pelos atores Pedro Fasanaro e Antonio Saboia. Se você não viu o filme, entenda que há spoillers nesse texto porque não é possível escrever sobre “Deserto Particular” sem contar detalhes importantes.

O filme, pré-selecionado para concorrer a uma vaga no Oscar 2022, leva o sotaque e alguns cenários de Curitiba para o mundo a partir do personagem Daniel. Estereótipo do homem machista, o protagonista é um policial militar, filho de aposentado das Forças Armadas, processado por agredir recrutas na escola de formação e que está afastado enquanto responde a um processo disciplinar e é atacado pela imprensa. Além de agressivo, é lesbofóbico.

No início do filme mergulhamos na vida de Daniel. A sensibilidade da direção nos leva ao ponto de quase termos empatia pelo rapaz emocionalmente fragilizado, que cuida do pai doente e está ferrado de grana e no trabalho. Daniel está apaixonado por Sara, com quem se relaciona pelo WhatsApp. Uma paixão pela desconhecida, daquelas de quando criamos histórias em cima de imagens, textos e voz e inventamos o que queremos.

Deserto Particular

Foto: Divulgação

Por meio de sombras e contrastes, a fotografia de Luis Armando Norteaga nos impõe um olhar de proximidade que nos faz sentir a angústia de Daniel. Parece que ele vive embaixo de uma nuvem, já que as imagens estão sempre escuras. Já Sara tem o rosto mais iluminado quando nos é apresentada, é uma moça delicada, sensível, calma. A fotografia passa a ser mais documental que poética neste segundo ato do filme que sai do Sul e vai para o Nordeste.

Sara é uma mulher trans, mas que vive sobre o perfil de um menino (Robson) na pequena cidade de Sobradinho (Bahia). Sobradinho também parece viver na sombra de duas outras cidades turísticas que ficam à margem do Rio São Francisco: Juazeiro da Bahia e Petrolina de Pernambuco, tão cantadas por Alceu Valença. Robson vive com a avó evangélica e trabalha na central de distribuição de alimentos, carregando sacos de verduras e caixas de frutas. Apesar de um passado de preconceito e violência, a serenidade parece ser sua companhia.

Deserto Particular

Foto: Divulgação

Como ninguém conhece Sara na cidade, Daniel tem dificuldade em encontrá-la. A estratégia que usa, vai mudar a vida de Robson para sempre. Mas o encontro do casal retrata com muita sensibilidade as emoções de duas pessoas em busca de amor e afeto. As cenas são sublimes por demonstrar carinho de forma encantadora. É difícil não querer viver um amor tão real quanto o retratado. Mesmo apoiando-se em dois estereótipos, o filme vai muito além de retratar clichês, reproduz emoções verdadeiras. Podemos até sonhar com um Oscar!

Por Curitiba Cult
25/11/2021 09h25

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