Esta lista foi feita para você, caro cidadão que come a coxinha pela bunda*. Ou, então, você que é adepto das coisas de cabeça para baixo: o feijão embaixo do arroz, o doce antes do salgado. Você certamente tem um gosto duvidoso, mas tem coragem para descobrir novos caminhos, construir narrativas doidas com estruturas insuspeitas. Por isso, acreditamos que você merece uma pequenina lista de livros que podem servir como referência teórica para provar que, SIM, há método nos caminhos escolhidos por você! Sinta-se abraçado, seu dia chegou.
*Atenção: comer coxinha pela bunda significa comer a coxinha ao contrário, não pela pontinha cheia de massa. Não estamos insinuando que existam pessoas que comam a coxinha… Bom, vocês entenderam.
Como não começar esta lista por um grande clássico da Literatura Ocidental (assim, em maiúsculo mesmo, para deixar a coisa toda bem chique)? Pois você não inventou a roda, meu amigo, e desde a Grécia antiga já existia um pessoalzinho que era meio do contra. Veja a Ilíada, por exemplo, que é composta in media res! Essa pequena expressão vem do latim e significa “no meio das coisas”. Pois a Ilíada, que retrata todo bafafá que foi a Guerra de Troia (perguições, batalhas, treta entre os deuses e parentes), na realidade começa antes de seu início e encerra antes de seu fim. Os fatos que provavelmente você conhece sobre a guerra – Helena fugindo com Páris, o Cavalo de Troia – simplesmente não constam no livro. Assim como você gosta de pular etapas (a pontinha da coxinha), os gregos tinham um certo apreço por começar as coisas antes do começo. É um match!
Vale ressaltar que outras epopeias, como a Odisseia (o famoso retorno de Ulisses para casa depois da Guerra de Troia) e a Eneida (provavelmente a primeira fanfic da história da literatura) também trazem essa estrutura narrativa. Então, se você gostar da Ilíada, já sabe para onde rumar em seguida. Bon Voyage.
Quem gosta de comer a coxinha “por trás” certamente gosta de estruturas narrativas surpreendentes, livres, modernosas. O jogo da amarelinha serve tudo isso. Imagina estar na lanchonete com seus amigos, pós pandemia, pedir uma coxinha e quando todos começarem a te olhar com aquele olhar perscrutador, dizer: “Voces sabiam que um dos maiores autores argentinos escreveu uma narrativa que tem tudo a ver com quem come coxinha como eu como? Pois saibam que existe um livro IN-CRÍ-VEL chamado O jogo da amarelinha, um livro no qual existem capítulos prescindíveis, em que existe a possibilidade de se ler os capítulos com uma ordem doida, através de um tabuleiro de leitura? Pois bem, somos todos loucos, inovadores. O Júlio Cortázar e eu, que como a coxinha ASSIM. Beijinho no ombro”.
Você estaria coberto de razões. O livro de Cortázar, além da estrutura inesperada, conta a história tocante de Horácio Oliveira e Maga. Além de ter razão na mesa da lanchonete, você vai se alegrar e emocionar com uma história vibrante.
Além de não começar pelo começo e de apreciar narrativas inesperadas, quem come a coxinha pela ao avesso quer saber das coisas LOGO. Que se dane a massa excessiva da pontinha! Você quer o sabor do frango, o temperinho, o prazer. Se Dostoiévski viesse ao Brasil, certamente ele se juntaria a você no banquinho da rodoviária. Como diria Caio Fernando Abreu: “Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra.”
Neste romance magnífico, acompanhamos a história de um assassinato. Quem será o culpado? É isso que você descobre no primeiro capítulo do livro! De cara fica claro que o jovem Raskólnikov pretende matar a odiada usurária que mora no seu prédio e usar o dinheiro para bancar seus estudos. Raskólnikov faz isso porque tem o ego um pouquinho inflado e acha que é uma espécie de novo Napoleão Bonaparte (logo, estaria moralmente ok matar uma velhinha inutil e exploradora). Infelizmente, não é bem assim. O romance retrata não apenas o arrependimento e questionamentos políticos e morais do jovem, como também os caminhos e descaminhos que o chefe de polícia usa para entender quem é o assassino. Poderia ser alguém que come a coxinha ao contrário, mas na verdade é apenas um jovem russo do século XIX que publica manifestos políticos no jornal da cidade.
Acho que o título do livro diz tudo, não é mesmo? Para finalizar nossa homenagem, fica aqui um intrigante romance francês do século XIX e que recebeu do grande Oscar Wilde uma crítica equivalente aos olhares que você recebe do tiozinho da feira: “Era o livro mais estranho que já lera.” O que esperar de um livro realmente às avessas, com um único personagem e sem enredo? Você sabe exatamente como é se sentir assim.
Des Esseintes, o personagem do livro, é um burguês entediado com a mesmice da vida burguesa. Ele vai embora de Paris e passa um tempo em Fontenay, cuidando metodicamente de uma casa. Acompanhamos seus delírios cômicos, divagações, pensamentos e críticas ácidas aos prazeres comuns (coisas bobas como colocar o arroz embaixo do feijão). Pode parecer loucura, mas também é, por vezes, uma intrigante proposta sobre olhar a vida de outro jeito, adotar novas perspectivas, permitir-se tentar as coisas de uma nova maneira – e disso você entende muito bem.
Aí está a lista, caro leitor. Já que você não tem como conhecer pessoalmente nenhum desses autores meio doidos, que adoram começar histórias da metade e inverter estruturas narrativas, que tal ler algum desses livros para se sentir um pouco mais representado nesse mundão? Pois é isso. Boa noite e boa sorte.
Sou bacharel em Estudos Literários pela Unicamp, mestra em Teoria e História Literária pela mesma universidade e doutoranda em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP. Acima de qualquer coisa, sou leitora, alguém que dedica a vida ao amor pelos livros e à crença de seu poder transformador. Minha coluna é um espaço sobre livros, arte, vida e contemplação.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em A Última Sessão, acompanhamos o menino Samay em sua descoberta do mundo mágico do cinema. Nessa história sensível, em uma cidade no interior da Índia, o menino de 9 anos assiste um filme no Galaxy Cinema e sua vida muda completamente e uma paixão feroz começa. Samay passa a faltar às aulas do colégio e a roubar um pouco de dinheiro da casa de chá de seu pai para assistir filmes. Com um desejo enorme de se tornar cineasta, Samay conhece Fazal, o projecionista do cinema e os dois fazem um acordo: Samay traz para Fazal as deliciosas comidas preparadas por sua mãe, enquanto Fazal permite que Samay veja infinitos filmes todos os dias na sala de projeção. Uma amizade profunda é forjada pelos dois e, logo, é colocada a teste graças a escolhas difíceis e transformações nacionais importantes. Agora, para perseguir seu sonho, Samay deve deixar tudo o que ama e voar para encontrar o que mais deseja.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em Marcello Mio, Chiara (Chiara Mastroianni), filha dos icônicos Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve (Catherine Deneuve), é uma atriz que vive um verão de intensa crise existencial. Insatisfeita com sua própria vida, ela começa a se questionar sobre sua identidade e, em um momento de desespero, afirma a si mesma que preferiria viver a vida de seu pai, uma lenda do cinema, do que enfrentar a sua realidade. Determinada, Chiara começa a imitar Marcello em tudo: veste-se como ele, adota seu jeito de falar, respira como ele. Sua obsessão é tamanha que, com o tempo, as pessoas ao seu redor começam a entrar nessa sua estranha transformação, passando a chamá-la de Marcello. Em um jogo de espelhos entre passado e presente, Marcello Mio explora a busca por identidade, legado e o impacto da fama na vida pessoal de uma mulher perdida em sua própria sombra.
Data de Lançamento: 11 de dezembro
O grupo de K-pop NCT DREAM apresenta sua terceira turnê mundial nesse concerto-documentário único. Gravada no icônico Gocheok Sky Dome, em Seul, a apresentação reúne um espetáculo vibrante, com coreografias e performances extraordinárias. O filme ainda conta com cenas de bastidores, mostrando o esforço depositado para dar vida a um show dessa magnitude. O concerto se baseia na história do Mystery Lab, um conceito cunhado pelo grupo. NCT DREAM Mystery Lab: DREAM( )SCAPE dá o testemunho de uma grandiosa turnê.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Queer é um filme de drama histórico dirigido por Luca Guadagnino, baseado na obra homônima de William S. Burroughs e inspirado em Adelbert Lewis Marker, um ex-militar da Marinha dos Estados Unidos. A trama segue a vida de Lee (Daniel Craig), um expatriado americano que se encontra na Cidade do México após ser dispensado da Marinha. Lee vive entre estudantes universitários americanos e donos de bares que, como ele, sobrevivem com empregos de meio período e benefícios do GI Bill, uma lei que auxiliou veteranos da Segunda Guerra Mundial. Em meio à vida boêmia da cidade, Lee conhece Allerton (Drew Starkey), um jovem por quem desenvolve uma intensa paixão. O filme explora temas de solidão, desejo e a busca por identidade em um cenário pós-guerra, com uma ambientação que retrata fielmente a atmosfera da Cidade do México nos anos 1950.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
A Different Man, é um thirller psicológico, dirigido e roteirizado por Aaron Schimberg, terá a história focada no aspirante a ator Edward (Sebastian Stan), no qual é submetido a passar por um procedimento médico radical para transformar de forma completa e drástica a sua aparência. No entanto, o seu novo rosto dos sonhos, da mesma forma rápida que veio se foi, uma vez que o mesmo se torna em um grande pesadelo. O que acontece é que, por conta da sua nova aparência, Edward perde o papel que nasceu para interpretar. Desolado e sentindo o desespero tomar conta, Edward fica obcecado em recuperar o que foi perdido.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
As Polacas é um drama nacional dirigido por João Jardim e selecionado para o Festival do Rio de 2023. O filme é inspirado na história real das mulheres que chegaram ao Brasil vindas da Polônia em 1867 com a esperança de uma vida melhor. Fugindo da perseguição aos judeus e da guerra na Europa, o longa acompanha a saga de Rebeca (Valentina Herszage), uma fugitiva polonesa que vem ao Brasil com o filho, Joseph, para reencontrar o esposo e começar a vida do zero. Porém, as promessas caem por terra quando, ao chegar no Rio de Janeiro, a mulher descobre que o marido morreu e, agora, está sozinha em um país desconhecido. Até que seu caminho cruza com o de Tzvi (Caco Ciocler), um dono de bordel envolvido com o tráfico de mulheres que faz de Rebeca seu novo alvo. Refém de uma rede de prostituição, Rebecca se alia às outras mulheres na mesma situação para lutar por liberdade.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Do aclamado diretor Alejandro Monteverde, conhecido por Som da Liberdade, Cabrini, narra a extraordinária jornada de Francesca Cabrini (Cristiana Dell’Anna), uma imigrante italiana que chega a Nova York em 1889. Enfrentando um cenário de doenças, crimes e crianças abandonadas, Cabrini não se deixa abater. Determinada a mudar a realidade dos mais vulneráveis, ela ousa desafiar o prefeito hostil em busca de moradia e assistência médica. Com seu inglês precário e saúde fragilizada, Cabrini utiliza sua mente empreendedora para construir um império de esperança e solidariedade. Acompanhe a ascensão dessa mulher audaciosa, que, enfrentando o sexismo e a aversão anti-italiana da época, se torna uma das grandes empreendedoras do século XIX, transformando vidas e deixando um legado de compaixão em meio à adversidade.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em Kraven – O Caçador, acompanhamos a história de origem de um dos vilões da franquia Homem-Aranha. De origem russa, Kraven (Aaron Taylor-Johnson) vem de um lar criminoso e de uma família de caçadores. Seus poderes nascem de uma força sobrenatural e super humana que o faz um oponente destemido e habilidoso. A relação complexa com seu pai Nicolai Kravinoff (Russell Crowe) o leva para uma jornada de vingança e caos para se tornar um dos maiores e mais temidos caçadores de sua linhagem. De frente para questões familiares, Kraven mostra sua potência nesse spin-off.