Histórico acontecimento da música brasileira que mobilizou o público no primeiro semestre deste ano de 2017, o reencontro de Paulinho da Viola com Marisa Monte em show inédito passa essencialmente pela nobreza do samba. Ambos são naturais do Rio de Janeiro (RJ), cidade-berço dessa cadência bonita. Ambos estão envolvidos com o passado glorioso da Portela, pioneira agremiação carnavalesca carioca que gerou alguns dos maiores bambas do Brasil. Ambos são cantores, compositores e músicos que interpretam, fazem e tocam samba, entre outros ritmos. Sucesso unânime de crítica, o show Paulinho da Viola encontra Marisa Monte voltará à cena de setembro a novembro, ganhando mais dez apresentações em oito capitais do Brasil para atender à intensa demanda do público. Os dois se apresentam em Curitiba no dia 14 de setembro, no Teatro Guaíra. Os ingressos estão à venda a partir de R$206.
A cumplicidade entre os artistas em cena é fruto tanto da admiração recíproca entre eles quanto da ligação genuína com o samba. “Estar com o Paulinho é como encontrar a alma do samba”, resume Marisa, que completa 30 anos de carreira em 2017. “Para mim, também é muito prazeroso compartilhar essa experiência. O canto de Marisa faz parte de minha memória musical”, ressalta Paulinho, referência no universo do samba e do choro desde a década de 1960.
A afinidade entre ambos vem de longa data. Marisa e Paulinho já haviam dividido o palco em um festival em 1993, um ano antes de a cantora gravar pela primeira vez uma música do compositor – no caso, Dança da solidão. A composição, que batizou álbum de Paulinhoem 1972, ganhou a voz da intérprete em antológica gravação feita com a participação de Gilberto Gil para o CD Verde, anil, amarelo, cor-de-rosa e carvão (1994). Em 2000, Marisa registraria no álbum Memórias, crônicas e declarações de amor (2000) outro samba de Paulinho, Para ver as meninas (1971).
As duas composições estão no roteiro do show, ao lado de títulos do cancioneiro da própria Marisa que giram ao redor do universo do samba, casos de Carnavália (Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, 2002) e De mais ninguém (Marisa Monte e Arnaldo Antunes, 1994). Contudo, se existe um eixo no qual o roteiro se sustenta, além da obra de Paulinho, é o samba produzido pelos compositores da Velha Guarda da Portela.
Esse universo musical, de riqueza melódica e poética, soa íntimo para os cantores. Paulinho frequenta a escola desde os anos 1960 e é, ele mesmo, lenda viva da azul e branco, situada na fronteira entre os bairros de Madureira e Oswaldo Cruz, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Marisa é filha de Carlos Monte, um dos diretores que gerenciaram a agremiação, e bebeu tanto nessa fonte límpida de inspiração que produziu e editou em 2000, por seu selo Phonomotor, um álbum com composições dos bambas da Velha Guarda da escola, Tudo azul, disco descendente da linhagem nobre do histórico LP Portela, passado de glória, produzido em 1970 por Paulinho da Viola para registrar sambas que corriam o risco de se perderem na tradição oral passada de geração para geração.
Não por acaso, antes que os artistas entrem em cena para iniciar a apresentação propriamente dita, o show começa com a reprodução, com som de vinil, desse álbum Portela, passado de glória. Desfrutar da audição de sambas como Levanta cedo (Rufino), Se tu fores na Portela (Ventura), Desengano (Aniceto da Portela), Sofrimento de quem ama (Alberto Lonato) e Vaidade de um sambista (Francisco Santana) é a chave para entrar no reino do samba habitado pelo show Paulinho da Viola encontra Marisa Monte.
Alguns dos sambas desse disco de 1970 são revividos por Paulinho com Marisa no bloco mais informal do show. Como se estivessem numa roda de samba, os cantores puxam o fio da memória que os faz lembrar de clássicos como Quantas lágrimas (Manacéa, 1970) e Sentimentos (Mijinha, 1973). A cada samba, surge uma história em clima que arrebata o público pela espontaneidade com que Marisa e Paulinho transitam por esse reino de melodias encantadas.
Os espectadores das primeiras apresentações do show Paulinho da Viola encontra Marisa Monte, feitas entre maio e junho, já sabem que, após o set inicial do anfitrião, a convidada entra em cena e permanece no palco até o fim do show. Não se trata de uma participação, mas de um show conjunto.
Embora promova basicamente um desfile de sambas conhecidos de Paulinho, de Marisa e dos antigos bambas da Portela, em série de sucessos em que a plateia chega a fazer coro com os artistas, o roteiro também permite que o público ouça sambas menos famosos. O samba que Paulinho compôs pensando em Roberto Carlos, Não quero você assim (1970), é um deles. A composição já tinha sido cantada pelo autor junto com Marisa no show que os uniu em 1993 sob a benção do violonista Raphael Rabello (1962 – 1995), mentor desse primeiro encontro dos dois bambas no palco.
Entre memórias, breves crônicas faladas sobre a Portela e declarações de amor aos compositores da escola, Paulinho da Viola canta, sozinho e com Marisa Monte, músicas que se encadeiam pelo refinamento melódico e poético. São sambas que passam fluentes como um rio pela memória afetiva dos artistas e do próprio público em encontro histórico pela própria natureza.
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Quando: 14 de setembro de 2017 (quinta-feira)
Onde: Teatro Guaíra (Rua Conselheiro Laurindo, s/n)
Horário: 21h
Quanto: variam de R$206,00 (meia-entrada) a R$806,00 (inteira), de acordo com o setor
Vendas: Disk Ingressos
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