Crítica – Ave, César! (Hail, Caesar!)

Os Irmãos Coen – Ethan e Joel – tem um tipo de cinema que se difere do que encontramos nos blockbusters de cada dia. Assim como Tarantino, há alguns elementos – tanto na estética, quanto narrativos – em suas obras que são tão característicos que, para qualquer um que já tenha visto mais de um filme dos diretores, não fica difícil identificá-los.

Desta vez, os Coen seguem com seu humor exagerado e apresentam uma sátira cheia de estereótipos, sem cair na apelação. Ave, César! é claramente uma homenagem ao cinema. Na verdade, à produção cinematográfica. Já de início percebemos que o momento histórico do cinema retratado pelos irmãos é a chegada do Cinemascope – uma manobra técnica que os grandes estúdios utilizaram para driblar a chegada da televisão, que roubou o público das salas de cinema.

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A proporção original do cinema era 1.33:1 e 1.85:1. O Cinemascope ampliou o campo de visão do espectador para 2.35:1.

Em determinada cena, encontramos outro fato que comprova a época histórica do longa: na sala de montagem dos filmes da produtora, uma mulher está encarregada do corte das cenas de cada take. Essa relação histórica se dá ao observarmos que, no início do cinema, o papel de montagem era atribuído às mulheres, por se assemelhar ao trabalho de corte e costura – exclusivamente exercido por elas. Apenas anos após a consolidação do cinema como indústria que os homens assumiram o papel de montadores – trabalho que é popularmente conhecido como “edição”.

Definido o contexto histórico, vamos a narrativa: Edward Mannix é um “problem solver” do Capitol Pictures que lida diariamente com os problemas que as grandes estrelas e diretores do estúdio trazem à sua mesa. Seu papel, ao longo do filme, é evitar escândalos, manter o prazo de gravações em dia e manter seus atores principais na linha – o que parecer ser seu principal desafio, porque, durante a trama, teremos um ator comunista que pretende incutir seus ideais em suas produções, uma famosa atriz solteira que engravida de um diretor casado e um protagonista do maior filme do estúdio que foi raptado em plena gravação do longa.

O elenco não é nada modesto: George Clooney, Scarlett Johansson, Channing Tatum e Josh Brolin. E enquanto passeia pelos gêneros, da comédia ao drama, Ave, César! sustenta uma metalinguagem que transcende a barreira comum estabelecida por filmes semelhantes e deixa confusa sua presença: em certo ponto é possível identificar traços documentários na narrativa e na forma com que os diretores apresentam as tramas. Mas essa relação só não fica mais turva que a linha que o longa estabelece entre a crítica à produção cinematográfica e sua própria produção. Mas é preciso lembrar que o papel do filme não é sempre amarrar suas pontas, principalmente quando se trata de uma questão envolvendo a produção, que foge do teor narrativo.

Na há dúvidas de que o longa marcará presença na próxima temporada de premiações, recebendo indicações ao Oscar, Globo de Ouro e outras reconhecidas cerimônias. Ave, César! chega aos cinemas nesta quinta-feira (14).

Por Rafael Alessandro
14/04/2016 22h31