Eu tinha um amigo indiano. Não amigo desses de encontrar no shopping. Era amigo de Orkut. Sabe-se Deus em que contexto acabamos adicionando um ao outro e eu vi, ali, uma oportunidade de treinar meu inglês. Foi massa pra caralho! Descobri tanta coisa legal sobre a cultura dele… Uma das informações que me espantaram foi o fato de ele ser cristão em uma família de cristãos. É, eu era ignorante. De um indiano, em meus estereótipos pessoais, eu esperava que fosse hindu, ainda mais vivendo em Kanpur, cuja população é, em sua maioria, adepta dessa religião.
A amizade se manteve com a mudança para o Facebook e durou alguns anos. Até semana passada, na verdade. Acabou por um motivo bem besta, uma coisa de nada. Acabou porque sou gay. Calma, eu explico direitinho. Num primeiro momento, choca, né? Só que é mais normal do que você pensa. Você mesmo já deve ter, algum dia na vida, feito isso com alguém.
Depois de alguns meses sem contato, eis que a janelinha do Messenger sobe e era meu amigo indiano. Sorri de orelha a orelha e pensei na hora em perguntar como estava o casamento dele (que estava com problemas, infelizmente, na última vez que conversamos) e a irmã dele, que havia viajado para a Europa e ficaria 3 meses. A conversa estava muito legal até que ele me perguntou sobre minha vida. Contei algumas coisas leves, sempre omitindo gênero, sempre falando de “someone” (“alguém”) ou “there’s this person” (“essa pessoa”). É um cuidado babaca, triste, mas natural pra mim. Já perdi amigos por muito menos. Aos poucos fico mais confiante, mas toda uma vida condicionada a ver homossexualidade como uma coisa ruim deixa suas marcas mesmo num homossexual. Talvez ainda mais, porque é sempre uma sabotagem pessoal, um julgamento negativo de si, uma faca enfiada no próprio peito.
Ele notou. Perguntou. Disse que eu nunca dizia nomes e que achava engraçado, mas que queria saber o porquê. Afinal, ele sabia o nome dos meus cachorros mas não de minhas namoradas. Nesse momento, foi automático o que aprendi há pouco tempo, depois de quase dois anos de terapia: eu não preciso mentir. Eu sou um cara que gosta de outros caras, e isso não é uma vergonha. A intolerância alheia pode incomodar, mas a pessoal machuca, rasga.
Respondi que eu tinha receio de dizer que era gay porque havia o medo de perder contato com alguém tão diferente de toda a minha realidade.
Pausa.
Agora, o que eu queria era contar aquela reviravolta, sobre como ele aceitou tranquilamente e as diferenças superaram barreiras para a criação de um mundo melhor em que gays não serão prejudicados por quererem transar com pessoas do mesmo sexo. Mas não. Não foi isso o que aconteceu.
Voltando.
O rapaz automaticamente entrou no discurso de que eu iria para o inferno. Continuou falando coisas um tanto quanto pesadas. Assim, na camaradagem. Não foi agressivo. Foi natural. Eu disse que sentia muito, mas que o excluiria e não queria mais contato. Ele ficou surpreso. Perguntou por quê. Eu respondi por quê.
Disse que não acreditava nos mesmos princípios que os dele e que minha visão era pessoal demais para encaixar em uma doutrina. Ainda assim, eu entendia os princípios da religião dele e sabia que o inferno é a pior coisa que pode acontecer com alguém, de acordo com as descrições. Estamos falando de sofrimento eterno. Não é um câncer terminal. O câncer terminal pode doer muito, mas acaba na morte. O inferno não tem esse ponto final. É a alma que vai sofrer as piores torturas que podemos imaginar.
Eu agradeci que ele não tivesse sido agressivo, afinal, eu acharia ofensivo se estivesse na UTI de um hospital e alguém chegasse gritando EI, SEU MERDA, VOCÊ VAI SOFRER PRA CARALHO. Falta de respeito! E isso é leve, porque é só lembrar que estamos falando de sofrer torturas bastante utilizadas na época da ditadura militar ETERNAMENTE.
Ainda assim, eu não entendia como poderia manter contato com uma pessoa que soubesse de todas essas coisas ruins e falasse levianamente isso pra mim. Sem pensar no impacto. Eu poderia acreditar nessa parte também e fazer algo terrível por medo. Ser humano é poder pensar. É saber se há abertura para abordar certos assuntos (não chego perguntando sobre a vida sexual de minha chefe, por exemplo) e, caso não haja, lamentar e ficar na sua.
Se eu fosse religioso e estivesse no lugar dele, sabem o que eu faria? Falaria “uau” e mudaria de assunto, falando de mais um passeio de elefante, porque, afinal, meu amigo nunca viu um elefante. Antes de dormir, contaria a minha esposa, que, afinal, voltou pra casa e faria uma oração por ele. Se tivesse que ir pro inferno, pega essa oração e suavize a pena dele, amém.
Ele escreveu que ficou sem palavras, me pediu desculpas e disse que… Não havia pensado. Então respondi que, mesmo não pensando, ele matou algo de muito bonito: minha vontade de saber se, na última missa a que ele foi, ele acendeu a vela que eu pedi.
O que eu quero pra 2016? Não sei. Mas eu poderia ter passado meu 2015 sem esse episódio. Espero que você possa pensar no que faz a um homossexual em seu dia a dia quando o despreza por sua orientação. Que a piada ou a sentença ao inferno cria um inferno particular. Esse inferno particular nem sempre tem com quem desabafar. Não há como fugir.
A vela foi acesa sim. Eu agradeci e me despedi. Foi um bom amigo.
O Curitiba Cult cedeu espaço ao autor, que preferiu não se identificar.
Data de Lançamento: 19 de dezembro
As Crônicas de Uma Relação Passageira conta a história do romance entre Charlotte (Sandrine Kiberlain) e Simon (Vicenti Macaigne) que se conhecem em uma festa. Charlotte é uma mãe e solteira, já Simon é um homem casado e sua esposa está grávida. Eles se reencontram num bar e começam um relacionamento repleto de percalços. Ela é mais extrovertida, pouco preocupada com o que os outros pensam. Ele é mais tímido e retraído. A princípio, os opostos realmente se atraem e ambos concordaram em viver uma relação apenas de aventuras, mas tudo se complica quando os dois criam sentimentos um pelo outro e o que era para ser algo muito bom, acaba se tornando uma relação perturbadora.
Data de Lançamento: 19 de dezembro
Dirigido e roteirizado por Pat Boonnitipat, a trama dessa ficção emocionante, Como Ganhar Milhões Antes que a Vó Morra, acompanha a jornada do jovem When M (Putthipong Assaratanakul), que passa a cuidar de sua avó doente chamada Amah (Usha Seamkhum), instigado pela herança da idosa. O plano é conquistar a confiança de sua avó, assim será o dono de seus bens. Tendo interesse apenas no dinheiro que Amah tem guardado, When resolve largar o trabalho para ficar com a senhora. Movido, também, por sentimentos que ele não consegue processar, como a culpa, o arrependimento e a ambição por uma vida melhor, o jovem resolve planejar algo para conseguir o amor e a preferência da avó antes que a doença a leve de vez. Em meio à essa tentativa de encantar Amah, When descobre que o amor vem por vias inimagináveis.
Data de Lançamento: 19 de dezembro
Um aspirante a escritor utiliza um alter ego para desenvolver seu primeiro romance. Em Sebastian, Max é um jovem de 25 anos que vive como escritor freelancer em Londres trabalhando com artigos para uma revista. Ter um livro publicado fala alto na lista de desejos do rapaz e, então, ele encontra um tema para explorar: o trabalho sexual na internet. Se a vida é um veículo de inspiração para um artista, Max corre atrás das experiências necessárias para desenvolver a trama de seu livro. Com isso, durante a noite, Max vira Sebastian, um trabalhador sexual com um perfil em um site no qual se oferece pagamentos por uma noite de sexo. Com essa vida dupla, Max navega diferentes histórias, vulnerabilidades e os próprios dilemas. Será que esse pseudônimo é apenas um meio para um fim, ou há algo a mais?
Data de Lançamento: 19 de dezembro
Uma comédia em que grandes segredos e humilhações se cruzam e vem à tona. Histórias Que é Melhor Não Contar apresenta situações com as quais nos identificamos e que preferimos não contar, ou melhor, que preferimos esquecer a todo custo. Encontros inesperados, momentos ridículos ou decisões sem sentido, o filme aborda cinco histórias com um olhar ácido e compassivo sobre a incapacidade de controlar nossas próprias emoções. Na primeira história, uma mulher casada se vê atraída por um rapaz que conheceu em um passeio com o cachorro. Em seguida, um homem desiludido com seu último relacionamento se vê numa situação desconfortável na festa de um amigo. Na terceira, um grupo de amigas atrizes escondem segredos uma da outra. Por último, um professor universitário toma uma decisão precipitada; e um homem casado acha que sua mulher descobriu um segredo seu do passado. Com uma estrutura episódica, as dinâmicas do amor, da amizade e de relacionamentos amorosos e profissionais estão no cerne desse novo filme de Cesc Gay.
Data de Lançamento: 19 de dezembro
Lee, dirigido pela premiada cineasta, Ellen Kuras, vai contar a história da correspondente de guerra da revista Vogue, durante a Segunda Guerra Mundial, Elizabeth Lee Miller. O filme vai abordar uma década crucial na vida dessa fotógrafa norte-americana, mostrando com afinco o talento singular e a tenacidade dela, o que resultou em algumas das imagens de guerra mais emblemáticas do século XX. Isso inclui a foto icônica que Miller tirou dela mesma na banheira particular de Hitler. Miller tinha uma profunda compreensão e empatia pelas mulheres e pelas vítimas sem voz da guerra. Suas imagens exibem tanto a fragilidade quanto a ferocidade da experiência humana. Acima de tudo, o filme mostra como Miller viveu sua vida a todo vapor em busca da verdade, pela qual ela pagou um alto preço pessoal, forçando-a a confrontar um segredo traumático e profundamente enterrado de sua infância.
Data de Lançamento: 19 de dezembro
Prólogo do live action de Rei Leão, produzido pela Disney e dirigido por Barry Jenkins, o longa contará a história de Mufasa e Scar antes de Simba. A trama tem a ajuda de Rafiki, Timão e Pumba, que juntos contam a lenda de Mufasa à jovem filhote de leão Kiara, filha de Simba e Nala. Narrado através de flashbacks, a história apresenta Mufasa como um filhote órfão, perdido e sozinho até que ele conhece um simpático leão chamado Taka – o herdeiro de uma linhagem real. O encontro ao acaso dá início a uma grande jornada de um grupo extraordinário de deslocados em busca de seu destino, além de revelar a ascensão de um dos maiores reis das Terras do Orgulho.