Crítica: “A Garota da Agulha” é forte concorrente para “Ainda Estou Aqui” no Oscar 2025

A Garota da Agulha. Foto: Divulgação MUBI.
Foto: Divulgação MUBI

A perversidade da guerra se perpetua na sociedade, evocando um mal por vezes impossível de controlar. A protagonista de “A Garota da Agulha” demonstra uma jornada de egoísmo e crueldade que parece pertencer aos tempos de crise – ou seja, algo bem atual. O longa-metragem polonês de Magnus von Horn é indicado na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025. Concorrendo com “Ainda Estou Aqui” e “Flow”, é forte candidato a levar a estatueta. Esse longa está disponível na MUBI.

Trama

Após a Primeira Guerra Mundial, Copenhague (Dinamarca), assim como boa parte da Europa, está em crise. As mulheres que trabalhavam nas fábricas veem suas profissões mudando, recebendo cada vez menos e sem o amparo dos maridos que foram para a guerra. Karoline (Vic Carmen Sonne) é uma delas: sem conseguir pagar nem a moradia, faz o que pode para se virar. Se revolta, briga, até ter um caso com o patrão. Quando engravida e acha que pode finalmente triunfar, seu marido volta, desfigurado, depois de anos sem sinal de vida, e a mãe do patrão o obriga a largá-la.

Grávida, sem perspectivas e sozinha, encontra apoio no lugar mais inesperado e sombrio: uma mulher que faz doações clandestinas de recém-nascidos. O vínculo obscuro entre as duas revela uma espiral de sentimentos cada vez mais caóticos e destrutivos. Karoline se apega às crianças, mas cada vez mais cai na trama de Dagmar (Trine Dyrholm, outra atuação marcante). Pouco a pouco, vai se descolando do lado mais humanitário de sua personalidade.

Reflexos da guerra

A escolha do preto e branco não é só por retratar o passado, mas para resgatar tradições cinematográficas ligadas aos primeiros filmes de horror. A cena em que Karoline encontra o marido em uma espécie de circo de aberrações, com uma iluminação opressivamente escura, traz essa dramaticidade. A escolha de enquadramentos é essencial para entender essa visão que mostra a devastação causada pela guerra. Não apenas para soldados ou cidades que foram afetadas, mas até mesmo para a população comum.

A vida de Karoline foi alterada de uma maneira sem volta, e não só pela falta de dinheiro. A falta de contato humano, o fim da esperança, a falta de apoio e a revolta pelas situações em que é colocada vão tirando dela seu vigor. O olhar de Vic Carmen Sonne vai mudando de forma dramática em um trabalho excepcional da atriz. Mesmo depois da guerra, as consequências afetam a todos – também psicologicamente. “A Garota da Agulha” revela o lado perverso da humanidade acentuado pelos conflitos bélicos, que tiram a empatia pouco a pouco e deixam apenas uma vontade de viver descolada de moral.

Talvez por flertar com o terror – gênero mal visto pela Academia – não seja a principal escolha para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Mas a trama bem construída com tema sensível e uma parte técnica autoral e coerente tem grandes chances de levar uma estatueta.

Por Brunow Camman
02/03/2025 14h12

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