Crítica: “A Verdadeira Dor” equilibra simplicidade e profundidade de forma original

A Verdadeira Dor. Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação

Sentir e entender as diferentes dores que uma pessoa pode viver – esse é um caminho possível do filme “A Verdadeira Dor”. O segundo longa-metragem dirigido por Jesse Eisenberg estreia nesta semana nos cinemas brasileiros (30/01). O filme já chega ao país indicado a dois Oscar, de Melhor Ator Coadjuvante para Kieran Culkin e Melhor Roteiro Original para Eisenberg – ambas as indicações merecidas.

A trama é simples e logo de cara já promete ser emocional. Os primos David (Eisenberg) e Benji (Culkin) resolvem conhecer a Polônia, terra de origem da falecida avó, sobrevivente do Holocausto. Os dois não se falam direito há anos, e no aeroporto já fica clara a diferença entre os dois. David é contido e não gosta de aparecer, enquanto Benji, mesmo com cara de cansaço constante, é enérgico e falador. Essa dinâmica funciona muito bem na construção da tensão entre os dois.

Emocional

Chegando ao país europeu, a dupla encontra um pequeno grupo de pessoas para fazer um tour cultural e histórico. Com diferentes razões para estarem ali, todos se interessam pela questão judia em relação ao Holocausto, à sobrevivência, buscando uma conexão real com o que aconteceu. A palavra “luto” flutua o tempo todo sobre o grupo. Benji parece interessado nas pessoas, traz momentos de descontração e tira a sisudez do passeio, em momentos marcantes.

Quando estão observando estátuas do exército que resistiu aos alemães na Segunda Guerra, Benji sugere fotos divertidas, colocando os parceiros de viagem em cena. Aqui, Eisenberg como diretor escolhe o momento certo de tirar a câmera do ponto fixo e seguir de perto a construção de cena que Benji elabora, os sorrisos, a emoção do grupo. O olhar do diretor é preciso e as escolhas técnicas favorecem cenas que seriam simples.

No dia seguinte, Benji está do avesso. É agressivo, acusatório. Como ousam estar felizes na primeira classe de um trem enquanto falam de antepassados mortos por nazistas? A mudança de humor do personagem reflete um tema central do filme: é possível ser feliz enquanto tantas catástrofes foram e continuam sendo perpetradas pela humanidade contra si mesma? É ético pensar na própria felicidade neste cenário?

Humor

O fato de Benji não ter um diagnóstico de saúde mental é proposital. Não importa exatamente o que ele tem, mesmo que fique claro. As mudanças repentinas de humor representam um sentimento que passa por todo ali – em menor grau, menos exacerbados do que no personagem, mas é isso que o torna especial. Benji é cativante, causa até inveja em David, mesmo que esse reconheça os defeitos do primo e não entenda sua questão mental.

Benji carrega tanto uma alegria cativante quanto uma melancolia agressiva. A complexidade do personagem o torna único, e Eisenberg sabe aproveitar bem sua criação. David, mesmo visto como protagonista, é um espectador da força catalisadora e colérica de Benji – muito bem interpretado por Culkin. Kieran consegue pegar o que vimos de melhor em sua atuação na série “Succession” e adaptar ao roteiro, trazendo um personagem fresco e multidimensional. Eisenberg também entrega uma boa atuação – coisa que há anos não era vista.

Como diretor, Jesse Eisenberg se mostra eficaz e equilibrado. Não exagera na dramaticidade ao tratar de cenas e discussões sobre o Holocausto, trata do tema de forma respeitável e traz um roteiro que leva além a discussão sobre luto e dor. “A Verdadeira Dor” traz um trabalho muito bem feito e original.

Por Brunow Camman
27/01/2025 10h00

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