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foto: Canva
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Na Sete de Setembro, o sinal pra carros fica vermelho e o de pedestre abre. Uma guria longe do meu carro atravessa na faixa. Assim que coloca o pé na rua, deve ter estourado uma baita música nos seus headfones: ela solta a voz fazendo careta de afinação e virando o pescoço pra um punhado de ângulos enquanto caminha num ritmo dançado de talvez um pop. Me reconheço na hora.

Ela ainda não tá na frente do meu carro quando percebe que tô olhando. Dá um sorriso/risadinha sem parar dança nem cantoria até sumir calçada abaixo. E aí a quebra do reconhecimento.

Sempre me flagram nessa de dança e cantoria. Mas no flagra, eu paro (acho que a maioria para).

Só nessa semana caí com Xamã, Madonna e, por duas vezes, O Surto (em minha defesa, uma foi programação da rádio e outra aleatório no Spotify).

Tava lá num movimento de malandragem com as mãos e o piercing dela refletia a luz do sol, e pá: um piazão com um boné laranja de vidro aberto assistindo. Dei uma abaixada no som e virei pro outro lado e rezando pro trânsito andar.

Como em todas as vezes que caí, não sustentei o show. Até que eu vi a mulher na Sete de Setembro.

A rádio na covardia, mandou às oito e trinta e sete da manhã Bohemian Rhapsody. Eu e Freddy naquela confissão toda e o trânsito fluindo entre um sinal e outro da Brasilio Itiberê. Aí mandei uns solos na air guitar que deixo no banco traseiro. E quando chegou no momento da ópera, bem no momento da ópera, o sinal avermelhou.

Na pista do meio, sem carro nos lados, segurei o freio e continuei a interpretação maestrando com os braços e largando a voz (as vozes, porque quebro todas as vozes do coro pra não perder nenhuma participação).

Até que vejo no retrovisor um fiat azul se aproximar, e parar do meu lado. Uma mulher levando um adolescente no carona. Não perco o ritmo, não perco o tom, não paro careta nem movimento dos braços – só vejo eles meio rindo/sorrindo e cumprimento com uma abaixada de queixo. O sinal abre e acelero antes de ouvir aplausos.

Por Rai Gradowski
17/10/2024 09h44

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