5 hotspots em Curitiba para comer e entender o universo millennial

“A música de antigamente que era boa”

Quando Mozart apresentou pela primeira vez à sociedade austríaca a ópera cômica Don Giovanni, sobre um nobre sedutor que promete casamento para conquistar jovens donzelas e depois as abandona, a frase proferida pela porção mais conservadora da corte deve ter sido mais ou menos essa.

Também deve ter sido usada por ferrenhos modernistas brasileiros ao ouvirem a ode de amor à adolescente Helô Pinheiro, caminhando tranquilamente pelo calçadão de Ipanema, na música composta por Vinícius de Moraes e Tom Jobim.

E provavelmente seja repetida várias vezes por mães e pais ao verem seus filhos escutando MC G15 declarando todo seu afeto à novinha e afirmando que ela é seu fechamento.

Conflito de geração é parte indissociável da evolução. Então se você faz parte da Geração X, a primeira coisa a saber sobre a Geração Y, também conhecida como Millennials, é que você não gosta muito dela. Provavelmente odeie. Porque ela é autocentrada, narcisista, desapegada de bens materiais, um pouco preguiçosa, mas ao mesmo tempo realiza inúmeras tarefas simultâneas, defende avidamente seus ideais e desenvolveu novas formas de interação com seus pares que passa obrigatoriamente pelo uso de tecnologia, celulares e redes sociais. Enquanto escrevia estes primeiros parágrafos, eu conferi minhas redes sociais pelo menos 13 vezes, assisti a 2 clipes de MC Livinho que nunca tinha visto, 1 dos Beatles, joguei 5 partidas de Toy Blast e li um artigo da Exame sobre a desconfiança do mercado financeiro com a Natura.

Na teoria, millennial é geração nascida entre os anos de 1980 e 1990. Mas esse período funciona melhor para definir a geração de jovens nascidos nos Estados Unidos, onde a internet discada, o ICQ, o MSN e o MySpace se popularizaram a partir de meados da década de 90 e evoluíram muito mais rapidamente. No Brasil, dá para dizer que houve um delay de geração, principalmente aquela nascida nos primeiros anos da década de 80 e que na adolescência só tinha o computador da biblioteca do colégio para jogar campo minado durante a semana e aos domingos passava o dia vendo É o Tchan no Domingo Legal. Há, inclusive, um termo para distinguir aqueles que não se identificam nem com a X, nem com a Y, chamada Xennials, ou Geração Banheira do Gugu.

É fácil se confundir entre tantos termos. E é mesmo difícil compreender esse universo. Até mesmo grandes empresas ainda não aprenderam direito a lidar com essa geração. A multinacional Pantone, por exemplo, errou rude ao escolher a sem graça Greenery como cor do ano e não Millennial Pink, da qual todos os blogs não pararam de falar em 2017. Por isso, há uma expressão mágica que congrega toda essa conceituação sobre millennials e deixa tudo mais palatável:

Instagrammable

(palavra inglesa)

adjetivo de dois gêneros e dois números

  1. 1. qualidade daquilo que vale ser postado no Instagram.
  2. 2. aquilo que se pode compartilhar e é apto de compartilhamento.
  3. 3. que é agradável à vista ou ao ouvido.

Instagrammable é tudo aquilo que vale ser compartilhado, que é bonito e que traga consigo um ideal. E essa palavra nos ajuda principalmente a entender a geração millennials através da adaptação pela qual o mercado precisou passar para agradar a essa parcela consumidora. Embora o poder de compra da geração Y seja menor que a da X, eles têm um poder de influência muito grande e conseguiram mudar o estilo de consumo e de vida das gerações anteriores (Whatsapp, Uber, Uber Eats, Netflix e Spotify são alguns exemplos). Por isso, é perceptível como este segmento vem ganhando cada vez mais espaço.

Um restaurante precisa ter pratos instagrammable, precisa ter uma arquitetura e decoração dignas de serem guardadas em pastas no Pinterest como referência, precisa ter um conceito de lifestyle que possa ser vendido aos seguidores do stories. Isso ajuda também a entender um pouco fenômenos recentes, como a gourmetização, o boom de reality shows gastronômicos e consequentemente toda a relação que temos com a comida atualmente. Não dá pra postar foto do virado de feijão com couve e bisteca sem que o prato tenha uma apresentação pensada, seja tudo orgânico ou traga somado um conceito de comfort food. Senão o prato vai acabar sendo postado no Comidas Feia.

Em Curitiba, há vários lugares que souberam integrar esses conceitos e termos aos seus produtos e que podem render um check-in no Facebook, curtidas no Instagram e, se você ainda usa o Snapchat, meia dúzia de visualizações. Na matéria anterior, sobre os 9 melhores lugares para beber drinks na cidade (você pode ler aqui), foram citados o Officina Restô Bar e o Ponto Gin, estabelecimentos que se enquadram perfeitamente nessa categoria. A lista a seguir indica mais 4 hotspots para comer que são incrivelmente (ou irritantemente, você escolhe) millennials e 1 que é millennial wannabe para você conhecer e tirar suas conclusões.

Tasty Salad Shop

O Tasty segue à risca quase toda a cartilha tutorial millennial: tem um conceito claro, design cool, praticidade no atendimento, embalagens sustentáveis To Go e um nome em inglês. Falta apenas o quadro negro para escrever o cardápio com lettering em giz. O lugar especializado em saladas e comidas funcionais tem filas enormes na hora do almoço, formadas por jovens que se acotovelam no espaço pequeno em busca de uma dieta saudável. A arquitetura de muito bom gosto utiliza muito preto, madeira crua e plantas, fazendo referência à identidade visual de lugares famosos do Brooklyn, em Nova York. Existem as saladas fixas no cardápio e a cada dia há uma salada especial, com acompanhamentos opcionais que também mudam, e são realmente gostosas. É possível ainda pedir um adicional de proteína, que pode ser frango, mignon ou salmão. Os preços começam em R$ 12,50 pela Caprese Mini, mas a quantidade não serve como uma refeição satisfatória. Nesse caso, é possível seguir o maravilhoso slogan, recentemente retirado do cardápio da rede, “Quer maior? Peça dois”. Grosseiro, impositivo e prático na medida certa, como toda boa publicidade.

A loja Tasty Salad clássica e mais legal fica na Rua Prudente de Moraes, 1195, no Centro. Mas também tem no Park Shopping Barigui, Shopping Estação, Centro Cívico (Avenida Cândido de Abreu, 526) e Juvevê (Rua Moyses Marcondes, 405).

Degusto Café

Se você somar os vídeos que ensinam a fazer o bolo Red Velvet nos canais da Dani Noce, Dulce Delight e Ana Maria Brogui no Youtube vai chegar a quase 2,5 milhões de visualizações. Millennials amam Red Velvet! E o Degusto tem um dos melhores da cidade. O charmoso café, com decoração que mistura industrial, vintage e contemporâneo, é um dos pontos mais concorridos na região ao entorno da Praça da Espanha e atrai principalmente famílias, jovens e pessoas em busca de Wi-Fi liberado. Parte do charme também fica por conta da cozinha aberta, de onde é possível acompanhar o processo de feitura dos pratos vendidos, inclusive dos bolos. A praticidade ao estilo Starbucks é o que rege o atendimento: você escolhe o que vai pedir a partir de um cardápio na parede, paga e espera ter seu nome chamado pelo barista (sempre aguardo ansioso para ver qual das 75 variações de pronuncia errada será utilizada para chamar o nome Dimis). Os preços são justos, pensando que o valor nesse setor cafeeiro nunca é muito barato. Um macchiato sai por R$ 5,50. E um pedaço do Veludo Vermelho em torno de R$ 15,00.

O Degusto Café fica na Alameda Dr. Carlos de Carvalho, 1148, no Batel.

The Meatpack House

A rua enquanto espaço democrático é um dos estandartes da geração millennial e também do Meatpack. E a ironia nos brinda com a localização da sanduicheria ser no agitado centro gastronômico da Vicente Machado, na mesma quadra em que mora o prefeito da cidade, Rafael Greca. Por isso, a região já sofreu com várias ações de controle e diminuição de barulho, o que dá mais força ainda ao slogan da casa. Especializado em sanduíches e chopps, o Meatpack oferece opções incrivelmente gostosas e com preços baixos, para quem não se incomoda de comer em pé, em meio a uma turba agitada. O design e conceito são marcantes. Mas o aspecto democrático em todas as suas instâncias é realmente o que sobressai. Misturando pessoas de todas as classes e estilos, o lugar tem a proposta sazonal de convidar chefs de renome em dias especiais para apresentar criações suas ao público. Essas versões gourmet de sanduíches tem o poder de levar um pouco da alta gastronomia para a rua, próximo de pessoas que muitas vezes não tiveram a chance de experimentá-la. O simples e delicioso pão com bolinho sai por R$ 10,00. Os pães com linguiça artesanais e as criações assinadas também R$ 15,00.

O The Meatpack House fica na Rua Vicente Machado, 841, no Centro.

Botanique Café Bar Plantas

Lugar super agradável, decoração bem planejada, conceito claro, comida boa, bonita e com preços baixos. Ou seja, totalmente instagrammable. Para todo lugar que você mira sua câmera do celular o resultado será uma foto ou stories incrível para ser postada. O Botanique mistura a proposta de café, bar e loja de plantas, como o nome sugere, num espaço que lembra casa de vó, mas uma vó totalmente ligada em tendências e conceitos. Com cardápio inspirado em referências latinas, é possível experimentar deliciosas empanadas, drinks bem executados, pratos típicos e um dos ingredientes queridinhos dos millennials em receitas salgadas, abacate. O sanduíche de pollo (frango) grelhado, abacate e pesto de funcho é curioso, fitness, delicioso e barato, saindo por R$ 15,00. As papas ao murro, iguais no sabor e no preço. Os sucos naturais, em várias combinações de sabores, sempre a R$9,00. A crema catalana, versão da Catalunha para o queridinho crème brûlée, pesa a mão no açúcar caramelizado, mas não chega a ofender e sai por R$7,00. A única coisa cara mesmo são as plantas.

O Botanique Café Bar Plantas fica na Rua Brigadeiro Franco, 1193, nas Mercês.

Jeronimo Smash Burger

O Chef Junior Durski é um bem material da sociedade curitibana. Sócio e criador da rede Madero, Durski construiu um império gastronômico com ajuda de sua família que já soma 100 lojas pelo Brasil, faturamento de mais de R$ 300 milhões e pretensões de dominar o mercado americano em breve. Só por isso ele já merece o prêmio Anitta, na categoria autogestão da carreira. Além disso, o Chef conseguiu criar uma maionese tão gostosa, que foi a primeira a alcançar o feito de competir de igual para igual com a maionese Heinz. Agora Durski, junto ao sócio e presidenciável apresentador Luciano Huck, lança a rede Jeronimo, com a intenção de atender ao público millennial. O resultado fica mais no campo da boa vontade. Tipografia, arquitetura, design e sabores. Em todos estes fatores, o Jeronimo é incrivelmente igual ao Madero. O que não é ruim, porque o Madero é ótimo. A proposta para agradar a geração Y é servir hambúrgueres mais baratos, mas no combo com batata, bebida e maionese extra (imprescindível!), o valor não fica muito abaixo do Madero. A incursão millennial também é justificada pelo apreço que a geração tem por tecnologia, refletida em totens de autoatendimento, onde você faz o pedido, paga com cartão e depois retira no balcão. É divertido na teoria. Na prática, a novidade apresenta o mesmo problema de quando você está com pressa na fila do check-in do aeroporto e as pessoas na sua frente mal sabem usar touch do celular. Oferecer a possibilidade de compra por app ou versão mobile da página, Wi-Fi livre e descontos em troca de check-ins, curtidas ou compartilhamentos já seriam soluções mais millennials.

O Jeronimo Smash Burger fica no Shopping Estação.

De certa forma, millennial é mais uma questão de escolher ser do que ser propriamente. Até porque não é barato. Vendido pelo selo de healthy food, uma salada com suco pode chegar a custar mais de R$ 40,00. Este valor cobrado abrange não só a comida, mas também todos os elementos de design e conceito acoplados. Ou seja, a experiência do lugar e a aura do produto são o que fazem essa geração preferir investir tanto num prato, ao invés de comer no buffet da esquina.

Contudo, o império millennial já chegou ao seu ápice. E como nos mostra a história, a tendência agora é ruir, para, muito em breve, a cavalaria da geração Z a subjugar, passando por cima de tudo, preterindo experiências em prol de produtos legais, estabelecendo novas formas de lifestyle digital e, provavelmente, ressuscitando o Snapchat e o Vine.

Mas com certeza a música não será tão boa como a de agora.

Por Dimis
17/11/2017 11h19