Porque Hoje é Sábado |Oxi, menino, né que o norte tá pelas bandas de cá!?

Sim, Curitiba além de estar com esse calor pra deixar qualquer curitibano frustrado sem poder usar suas peles sintéticas, o suplício deste veraneio tem deixado a capital dos pinhões mais caliente do que nunca. E não apenas pela questão climática, dá gastronomia à música, a efervescente cultura do norte brasileiro tem invadido a cidade de forma plena, e claro, a gente tem amado muito. Naturalmente, como filho de nordestino que sou, não poderia deixar de iniciar minha coluna sem falar de algumas dicas de onde desbravar a cultura lá de cima em pleno sul.

O Jambu caiu no gosto popular, isso é uma verdade. Pelas bandas de cá, a bendita Cachaça de Jambu verve a insanidade mais preciosa de qualquer apreciador de uma boa quente. Mas, se esbaldar noite adentro ao som da música do Pará e tomando essa bendita preciosa que amortece além do céu da boca (entendedores entenderão) e sendo em Curitiba, soa até underground. Mas, para a nossa alegria, as produtoras, Adri Menegale, Bila Sampaio e Layse Rodrigues comandam desde 2015 o Fervo do Jambu, a ferveção mais fervida da cidade. Além de distribuir doses homéricas da Cachaça, não pense que apenas de calypso e tecnobrega a pista sobrevive, muito pelo contrário. Guitarreada, lambada e carimbó são os ritmos mais conhecidos, mas a festa vai além e durante toda ferveção, do siriá e passando pelo lundu marajoara o Fervo do Jambu traz a noite paraense para Curitiba.

 

E como não apenas de fervos se vive, provar algumas delícias da cozinha do Pará é uma das boas e agradáveis maravilhas do mundo. Não é de hoje que a cozinha brasileira é considerada a mais rica pela pluralidade e suas possibilidades de combinação. A gastronomia paraense é uma das provas desta imersão saborosa. A cultura popular, ainda mais a do Pará faz jus a esta expressão, logo, comer numa barraca de feira faz mais sentido ainda, e Doralice Araújo que o diga. Dora como é conhecida em Curitiba, chegou por aqui em 1992, quando trocou a ensolarada Amazônia pela cidade mais cinzenta do país. Munida de sua câmera fotográfica na bolsa, sempre. E também conhecida pelas suas aulas de redação, a arte da cozinha mantida em sua barraca e a na arte da escrita, concentrada em seu blog “Na Mira Do Leitor”, Dora é a simpatia de uma amazonense-curitibana.

Mas como boa amazonense que é, as raízes e as essências de Dora tem conquistado sua clientela em cada estação. Na feira gastronômica da praça Osório, na barraca da Amazônia, além de ser um ponto de encontro entre a comunidade do norte, são as mãos e o conhecimento de Dora os responsáveis pelo verdadeiro Tacapá. Iguaria da região amazônica, mas de origem indígena, a comida consiste em um caldo amarelado com temperos do norte e com pimenta-de-cheiro servida a parte em uma cuia. O caldo é colocado em cima da goma de tapioca e servida com camarão seco e jambu. Irônicamente, escrever esta coluna perto do horário do almoço, varado de fome, ou brocado, como se diz na Amazônia, não foi muito sábio.

De Natal, lá no Rio Grande do Norte, pras bandas de cá, a cantora e compositora Cida Airam também é uma das mulheres que carregam a cultura paraense em sua essência. No final de 2015, em seu primeiro disco, dá autenticidade, e motivada pelas saudades de sua ‘terrinha’, como carinhosamente fala ao rememorar, as expressões culturais do norte estão todas impressas no seu trabalho de estreia. De canto forte e seguro, a imensidão artística de Cida se revela em cada faixa das 13 canções de seu disco homônimo. Mas, muito além da arte, a personalidade de quem é Cida é a reunião de toda essa cultura do norte que habita em Curitiba. Não é apenas a terra do leitê quentê, mas a cidade que abriga diversos brasis e ainda assim ainda não se descobriu. Ou ainda, “o meu Brasil é imenso e tem milhares de maneiras de cantá-lo”, como disse certa vez, Cida Airam.

ONDE ENCONTRAR?

Fervo do Jambu – Próxima edição dia 12 de fevereiro, porque ressaca de carnaval se cura com Cachaça de jambu. A ferveção será no 351, na Trajano Reis. Mais informações aqui.

Barraca da Amazônia – A feira ocorre durante vários períodos do ano. A próxima edição será no período da páscoa. Sim, vamos ter que esperar até lá.

Cida Airam – O disco de Cida Airam está disponível para ouvir na íntegra aqui. Tira o sofá da sala e se joga.

Todos os vídeos no post são de cantoras do norte brasileiro porque não é apenas de Banda XCalypso e Gaby Amarantos que se vive por lá. 

 

Por Lucas Cabana
06/02/2016 19h43