Há 9 anos, num 7 de julho, o Sr. Roger terminava sua caminhada nesta vida. Aos 60 anos de idade, ele que passará anos recluso entre pinturas e sua vida particular, faleceu em sua casa, em Cambridge. Impossível saber o que se passava pela cabeça desse homem que, mesmo vivendo anos longe de qualquer holofote, tornou-se uma lenda.
Isso porque, 40 anos antes, o Roger estava no centro da psicodelia britância. Nessa época, quando atendia pelo seu nome artístico, Syd Barrett, ele morava num apartamento em Earls Court, em Londres. Há essa altura ele já havia fundado, gravado o primeiro disco – o incrível The Piper at the Gates of Dawn – e sido desligado do Pink Floyd por causa de seu comportamento cada vez mais inesperado, errático e, também, psicodélico.
Certo dia, Syd pintou o chão daquele seu apartamento de roxo e laranja. Nessa época, ele morava com a Iggy – uma mulher de origem paquistanesa que viu shows do Who, brigas com rockers e o movimento mod de perto em Brighton. Naquele dia, Syd a convocou para ajuda-lo a terminar a pintura. Seria o dia da sessão de fotos para o seu próximo disco. Quando o fotógrafo Mick Rock chegou, Syd, que não vestia mais que suas cuecas, pediu para que Iggy continuasse nua. E, assim, foram feitas as fotos que ilustram um dos maiores gritos do rock: The Madcap Laughs.
A história da curta e intensa vida musical do Syd é permeada pelo caos, mistério e fascínio também tão próprios daquilo que chamamos de psicodelia. Sua saída do Pink Floyd se deu de forma gradual: inicialmente ele participaria das composições, deixando os palcos para seu amigo de infância David Gilmour. Porém, até mesmo esse acerto mostrou-se insustentável. O comportamento do Barrett desagradava seus parceiros de banda o que resultou no seu desligamento completo do grupo. Apesar de gradual, a saída teve grande impacto no Syd, que já em 1968 começou a trabalhar no seu primeiro trabalho solo.
O Madcap Laughs é um registro das várias faces da genialidade caótica do Syd, e isso fica evidente até na história da gravação. Gravado ao longo de dois anos, este disco foi produzido inicialmente por Peter Jenner – que admitiu ter substimado as dificuldades de trabalhar com Syd. Depois de uma pausa nas gravações devido a um período de crise de Barrett após o termino de um relacionamento, Malcom Jones assumiu a produção, dando continuidade e gravando novas canções para o disco. Um tempo depois, Gilmour, atendendo um pedido de Syd, assimiu a produção junto com o Roger Waters. Depois de várias tentativas, algumas mudanças na direção, overdubs e participações de membros do Soft Machine, Syd Barrett lançou seu primeiro disco solo, em 1970.
Como não poderia ser diferente, a vida errática do Syd reflete nas suas canções. As performances e as execuções caminham de forma às vezes caótica e as vezes relaxada, revelando uma pessoa entre a sanidade e a loucura.
O fascínio que Syd exerce está na sua capacidade de ser um poeta da sua própria psicodelia. Sempre explorando os efeitos e sons da sua guitarra, Syd nos envolve de várias formas. ‘Octupus’ mostra a habilidade de Barrett que ajudou a dar fama ao Floyd, numa composição que poderia ter sido gravada pela banda. ‘Golden Hair‘ é uma música que, através de seu mistério, assusta e tranquiliza. Já ‘Love You‘, num tempo mais rápido, não para por um instante no seu arranjo que mistura vários sons.
Uma das marcas do Madcap são os momentos onde o estúdio vence a barreira do disco. Num exemplo de sua genialidade, ‘She Took a Long Cold Look‘ trás o barulho das páginas da partitura sendo viradas pelo Syd durante a gravação. Em outro momento, Syd conversa com o pessoal do estúdio enquanto procura o ponto e o momento certo para cantar e assim nos transporta para dentro da sua loucura. A melodia que se alonga e se espalha pela música, com entradas falsas e mudanças na harmonia sendo conduzidas pela sua guitarra, ‘If It’s In You’ é um pouco de toda a história que o Syd vivia naquele momento.
Syd Barrett foi capaz de transmitir seus sentimentos em suas músicas de maneira única. Escutar suas músicas é dar um passeio por uma mente que vivia entre medos e sonhos, buscando incessantemente seu espaço. Sua voz e sua guitarra, que surruram e gritam, são as ferramentas que esse gênio usou para desabafar. É por isso que quando escutamos ‘Dark Globe’ a vontade é de chorar junto com o Syd, num desesperado e uníssono grito: você não vai sentir minha falta?
https://www.youtube.com/watch?v=qfrBVgGMl-o
https://www.youtube.com/watch?v=Ok4uxYAVH68
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