“Se não fosse a arte, eu já estaria morto” afirma Johnny Hooker

Seu nome, na verdade, é John Donovan. Natural de Recife, também trabalha como compositor, ator e roteirista. Johnny Hooker não tem medo de usar a arte para defender suas causas e levantar voz para o que acredita ser certo. É militante, é ativista, é impactante, é artista.

Depois de crescer como um dos maiores nomes da música brasileira atual, com o aclamado “Eu Vou Fazer uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!“, Hooker finalmente está de volta a Curitiba. O show é nesta sexta-feira (27), no Teatro Marista, com ingressos a partir de R$ 40, com desconto para leitores do Curitiba Cult.

Pés no chão e cultura na cabeça

As diferenças também unem“, afirma Johnny, ao explicar a importância da arte em sua vida. “E se abraçarmos essas diferenças a gente não tem guerra“. O cantor concorre na categoria “Clipe do Ano“, no MTV Millennial Awards 2018 com o vídeo de “Flutua“, em parceria com a cantora Liniker. A música fala abertamente de um relacionamento gay. “É uma canção com contornos políticos claros, é sobre ir contra o avanço dessas forças reacionárias, é sobre ter esperança, sobre um amor que vence“.

Mesmo com o sucesso promissor, Johnny é modesto e explica que seu negócio, de fato, é a arte. “É muito bom o reconhecimento, receber prêmios, ser indicados a prêmios – a gente [ele e Liniker] está até concorrendo agora com Flutua em clipe do ano – mas é como se fosse uma coisa que vem extra. Na verdade, o mais legal é fazer música e tocar as pessoas, encontrar as pessoas (…) em uma maneira de resistir em tempos tão sombrios“.

A importância da arte

Johnny sempre teve contato com a arte. Filho de pai fotógrafo e mãe apaixonada por música, desde criança ele sempre foi muito artístico. “A arte me salvou, se não fosse por ela eu já estaria morto, estaria embaixo do chão. É o que me faz ressignificar tudo, é o que move o mundo para frente“, explica. Além do desabafo, as falas de Hooker servem como uma explicação para o contexto atual em que vivemos. “A arte e a educação são as primeiras coisas a serem atacadas quando vêm os retrocessos, porque mudam o mundo, são esclarecedoras. A arte faz você olhar para o outro e olhar para você mesmo“, finaliza.

A voz de quem não tem palco

O público de Johnny é majoritariamente jovem e LGBT. Um público que sofre no país em que a cada 25 horas uma pessoa LGBT morre e que mais mata travestis e trans de todo o mundo.

Um público que achou uma forma de resistência no hino “Flutua” e encontrou voz no trabalho do cantor. Gay, meu trabalho sempre foi. Mas eu precisava falar isso com mais clareza“, diz. “Precisava falar que ninguém vai poder nos dizer como amar, seja qual for a nossa forma de amar“.

Johnny acredita que todos os artistas deveriam fazer o mesmo. Ele apoia as causas que acredita e tenta, de fato, ter voz por quem não consegue. “Um dos papeis da arte é incomodar, botar o dedo na ferida, mexer nos botões das pessoas…“, explica. “Muitos artistas mainstream não querem falar de coisas que incomodam, porque não querem perder o contrato com a marca de perfume, com a marca de cinema, com a marca do banco…“.

Para o cantor, tudo é político, desde as nossas vozes, até o fato de uma música independente tocar no programa de rádio. “Quem fala que artista precisa ficar calado, geralmente nunca precisou de uma política afirmativa, nunca precisou de uma lei que garanta os direitos básicos, geralmente são pessoas privilegiadas“, afirma em seu discurso.

O carinho dos fãs

Durante toda a conversa, que aconteceu no programa do Curitiba Cult na Rádio Woods FM, os fãs do cantor marcaram presença em peso. “É um orgulho ser seu fã”, comentou uma. O carinho conquistado não é sem motivo. Johnny fez questão de responder um a um durante a transmissão. Mesmo sem perceber, conseguiu deixar bem claro que se importa com eles da maneira mais sincera. Ah, e, é claro, não poderia deixar de avisar “eu quero ver todo mundo no show“.

Pra ouvir a entrevista na íntegra, você pode clicar aqui e ir para o nosso SoundCloud.

Serviço – Johnny Hooker em Curitiba

Quando: 27 de abril de 2018 (sexta)

Onde: Teatro Marista (Rua Prof. Joaquim de Mattos Barreto, 98)

Horário: 21h

Quanto: R$40 (meia) e R$80 (inteira)

Vendas: Sympla

Por Lucas Pierre Paiva
25/04/2018 17h37