A descoberta do baião

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A música é algo que não dá para se ter como uma invenção, ou dá? Os gregos atribuem-na a Apolo, Cadmo, Orfeu, Anfião; os egípcios, a Tot  ou a Osíris; hindus responsabilizam Brama; e judeus, Jubal. Não podemos deixar de fora Pitágoras, o grande cientista da música, inventou um monocórdio para determinar matematicamente as relações dos sons. Difícil dizer sua origem. Eu, pelo menos, não tenho esse conhecimento. Neste caso sou mais Adão e Eva do que Charles Darwin.

O bom é que podemos falar sobre a origem da música no Brasil, semana passada falei sobre a modinha – o primeiro ritmo. Hoje com o sol de abril e a mata em frô abro alas para o baião. Com motivo, pois a gente não lembra só por lembrá. 2015 é o ano do centenário de Humberto Teixeira, o Doutor do Baião. Mês passado o + Música, projeto do Museu Oscar Niemeyer e da Secretaria da Cultura, dedicou um belíssimo show a ele, com direção musical do qualificado Vicente Ribeiro. E sem contar que o baião é bom demais.

Ele foi transformado em gênero de música popular urbana a partir da década de 1940. Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira foram os responsáveis pela façanha. É bem provável que o baião seja uma derivação do lundu. De acordo com o Maestro Batista Siqueira ele “evita a sincopa, começando a frase melódica depois de pequena pausa” e a princípio nada tem a ver com sanfona, a diferença estava nos violeiros. E o nome? Segundo o folclorista Luis da Câmara Cascudo, baião é sinônimo de rojão. Por quê? Não há maiores explicações.

Quem inventou é difícil dizer. Luiz Gonzaga, com toda sua vaidade, disse em 1972 que foi ele. Que foi a sua astúcia que permitiu a introdução do triângulo ao lado da sanfona e da zabumba, a formar desta forma o mais indicado grupo de baião. Entretanto, em 1929, na revista Ilustração Brasileira, foi flagrada uma imagem em Alagoas: tocadores de pífaros, caixa, zabumba, rabeca e junto deles um piazote com um triângulo. Mas o Gonzagão cadencia: “Quando toquei um baião para ele [Humberto Teixeira], saiu a ideia de um novo gênero. Mas o baião já existia como coisa do folclore”.

O título de Rei do Baião ninguém vai tirar dele e nem a importância de seu surgimento – ao lado de Humberto Teixeira, que fique claro – no mercado musical num tempo em que boleros e samba-canções já saturavam a todos. Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira com suas asas brancas e seus assuns pretos deram vitalidade rítmica à música brasileira.

Por Dédallo Neves
09/04/2015 00h36