Crítica: “Wicked” é longa composição de ótima dupla entre Ariana Grande e Cynthia Erivo

Wicked. Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação

O aguardado filme “Wicked” chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (21/11) com uma emocionante – e longa – história. A adaptação do musical hit da Broadway para as telonas foi dividida em duas partes; a segunda deve chegar aos cinemas daqui um ano. A primeira metade vem sendo aguardada por fãs de musicais há tempos e traz uma jornada animada de amizade e afirmação de identidade.

O filme revela como as famosas bruxas de “O Mágico de Oz” se conheceram, e como uma se tornou malvada e a outra, boa. É dessa dualidade que surge a força do filme, com as grandes interpretações de Cynthia Erivo e Ariana Grande.

Background

Há todo um fundamento sólido para inspirar “Wicked”. Além dos livros de Frank. L. Baum e do filme “O Mágico de Oz” de 1939, há o romance de Gregory Maguire. Este, lançado nos anos 1990, serviu de base para o musical de 2003, que consagrou Idina Menzel e Kristin Chenoweth. A dupla é parte fundamental do sucesso do trabalho, e conseguir outro duo dessa magnitude era um grande desafio.

Ariana Grande consegue assumir o papel antes feito por Kristin como Galinda, a bruxa boa. Não apenas por saber cantar, inclusive traz novas nuances para o canto, diferentes do pop que a tornou diva. A atriz e cantora consegue colocar humor e profundidade na personagem. Galinda é complexa, tenta ser vista como boa o tempo todo, abusando do carisma até quando está sendo má. A jogada de cabelo carregada de graça é ponto alto da performance.

Cynthia Erivo brilha como Elphaba, aproveita cada momento que tem em tela para mostrar nos detalhes as dores e anseios da personagem. Elphaba nasceu verde, sente culpa pela irmã ter nascido com uma deficiência, é rejeitada pela família e sofre bullying na universidade. Quando é notada pelas suas qualidades pela primeira vez, e não por suas diferenças, agarra com unhas e dentes a oportunidade de se provar digna. Cynthia prova, a cada olhar e a cada canção, que merece os vários prêmios que recebeu – ela tem um Tony, um Grammy e um Emmy, e já foi indicada ao Oscar.

Dualidade

Essa dualidade entre o bem e o mal e como essas definições não são tão simples leva a uma jornada interessante. Elphaba e Galinda se detestam logo de cara, mas vão criando uma amizade. Por vezes, a inimizade se arrasta, e a amizade cresce de forma apressada, o ritmo do filme se perde nessa construção. Mas as músicas são divertidas e entretém mesmo nos momentos pouco inspirados da história. Toda a construção sobre a origem do chapéu de Elphaba é muito bem feita.

A trama já faz sucesso em diferentes mídias e o diretor John Chu não a altera demais, mas estende momentos do musical. “Wicked” nos palcos tem, completo, um tempo de duração parecido com o filme “Wicked”, só na primeira parte. A longa apresentação da escola e de personagens secundários que não ajudam a desenrolar a trama diverte do ponto de vista do musical, mas tornam tudo muito extenso.

A parte técnica do filme é desequilibrada. Há um tratamento muito bem feito da pele verde de Elphaba, de efeitos especiais e alguns cenários, enquanto a fotografia é exagerada, com excesso de luz que até tira a atenção de momentos divertidos como a dança na biblioteca. Flashes descabidos apagam a brilhante construção de mundo do diretor.

Para quem não é familiarizado com o musical, algumas canções talvez não tenham impacto. A impressão de um filme longo vem também de cenas que podem ser mais apreciadas para quem já conhece o material e quer degustar cada segundo da escola de magia Shiz. Mas o ato final, com a famosa canção “Defying Gravity”, vai impressionar todo o público.

Por Brunow Camman
21/11/2024 09h00

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