7×1

elza-garrincha

Futebol já moveu muitas paixões, muitas provocações, muitas canções. Cá no Brasil não tem como saber se é a música no país do futebol ou o futebol no país da música.

A começar por aqui, pela terra dos pinheirais, Reinaldo Godinho compôs Atletiba: “É bem legal/ é o futebol/ é o Atletiba num domingo de sol”. Música harmoniosa que não reflete tão bem assim o clima de um Atletiba.

Temos também o precavido Herivelto Martins com sua Nega Manhosa que pede a amada que guarde uns vinténs para o jogo: “Economiza, olha o dia de amanhã/ Eu preciso do troco/ Domingo tem jogo no Maracanã”.

O pop do Skank que nos explica para que servem as posições e esclarece que bola na trave não altera o placar.

O melhor de todos vem agora: Chico Buarque e Ciro Monteiro eram amigos, só que rolava uma divergência no Maraca, o Chico é tricolor e o Ciro era rubro-negro, isto é, um fluminense e outro flamenguista. Quando a filha do Chico nasceu, Ciro mandou uma camisa do Flamengo de presente só pra provocar e recebeu uma baita de uma resposta: a música ‘Ilmo Sr. Ciro Monteiro ou Receita pra virar casaca de neném’, que diz assim: “Amei o teu vermelho/ Que é de tanto ardor/ Mas quis o verde/ Que te quero verde/ É bom pra quem vai ter/ De ser bom sofredor/ Pintei de branco o teu preto/ Ficando completo/ O jogo da cor/ Virei-lhe o listrado do peito/ E nasceu desse jeito/ Uma outra tricolor”.

Mas a relação da música com o futebol é ainda mais confinante. Ary Barroso, que compôs a música que poderia substituir o hino nacional – Aquarela do Brasil – era locutor e flamenguista doente, que chegava a largar o microfone para comemorar gols ou discutir com a arbitragem.

Lamartine Babo, que fez parceria com Ary em várias músicas, compôs os hinos dos times cariocas. Wilson Simonal estava junto com a seleção de 1970 na conquista do tri. Garrincha casou com Elza Soares. E infinitas outras coisas que põem em xeque se vivemos no país da música ou no país do futebol.

Depois do 7 a 1 a resposta poderia ser clara se não houvesse a concorrência ferrenha do sertanejo universitário.

Por Dédallo Neves
26/01/2015 15h00