Sexualidade e gênero estão em debate nos palcos do Festival de Teatro de Curitiba

Os papéis dos gêneros e as complexas pressões sociais a respeito da sexualidade estão presentes no 24º Festival de Teatro Curitiba em três espetáculos da Mostra. Pessoas Perfeitas – da companhia brasileira Os Satyros –, Surfacing – performance do ator, cantor e compositor americano Holcombe Waller – e Double Rite – duplo espetáculo da companhia dinamarquesa Granhøj Dans – apresentam essas questões em suas abordagens cênicas.

Em Pessoas Perfeitas, Ruy, vivido pelo ator Ivam Cabral, é também Sarah, personagem feminino que adota em suas conversas telefônicas em um disque amizade. “É uma pessoa solitária, que vive a culpa de uma possível condição transgênera, possivelmente virgem, aos 45 anos”, explica o diretor Rodolfo García Vázquez. “Em salas de bate-papo, alimenta conversas eróticas com homens e mulheres, sempre usando sua identidade feminina, uma mulher carioca, esteticista, independente e confiante, que vive em São Paulo há alguns anos. O conflito entre esta identidade imaginária e o seu mundo real o leva a sofrer continuamente”, completa.

O espetáculo de Os Satyros traz, ainda, o personagem Binho – vivido pelo ator Henrique Mello – inspirado em entrevistas que o grupo fez com garotos de programa. “Ele é um michê que tem uma bissexualidade complexa. Sente prazer com homens, mas nega esse prazer para se sentir menos culpado”, explica Vázquez. “Faz sexo com homens, em geral casados, atendendo suas necessidades sexuais mais variadas. Com mulheres também apresenta dificuldades de estabelecer vínculos afetivos”, revela.

Holcombe Waller, de Surfacing, explica que seu espetáculo gira em torno de pessoas consideradas anarquistas, não-violentas, comunistas, revolucionárias e ideialistas. A peça não trata diretamente dos temas identidade de gênero e sexualidade. Porém, ele mesmo se identifica como um artista homossexual e dois dos personagens centrais retratados na peça se identificam como bissexual, Judith Malina, e outro como homossexual, Penny Arcade.

“O tema tece um caminho para o trabalho, mas não de uma forma direta ou em primeiro plano”, explica Waller. “Geralmente, o meu trabalho de performance explora assuntos que são, na América, politicamente de extrema esquerda. Eu acho que a minha auto-identificação como um artista americano gay independente, cria uma espécie de conexão com temas de sexualidade e identidade de gênero, através do espaço do liberalismo político”, analisa.

Em Double Rite, os dinamarqueses do grupo Granhøj Dans lançaram mão de um espetáculo duplo para debater a perda da inocência, os ritos de passagem e os papéis dos gêneros feminino e masculino na sociedade. Numa mistura de dança e teatro, as duas performances foram inspiradas na obra “A Sagração da Primavera”, de Igor Stravinsky. Em “Rite of Spring – extended” sete personagens masculinos entram em cena. A versão feminina, “Rose: Rite of Spring – extended 2”, traz oito mulheres no palco, inclusive uma pianista, cujo instrumento se transforma em parte do espetáculo.

O 24º Festival de Teatro de Curitiba é apresentado pelo Banco Itaú e Tradener, tem patrocínio da Renault do Brasil, Petrobras, Copel, Fundação Cultural de Curitiba/Prefeitura de Curitiba e UEG Araucária e apoio da Itaipu Binacional.

Sexualidade e gênero estão em debate nos palcos do Festival de Teatro de Curitiba – Serviço

Pessoas Perfeitas

Dias 28 e 29 de março, Teatro Paiol

Surfacing

Dias 31 de março e 1º de abril, Teatro Guairinha

Double Rite

Dias 28 e 29 de março, Teatro Guairinha

Crédito: André Stéfano

Por Curitiba Cult
12/03/2015 15h35