Reflexões psicológicas sobre o filme Labirinto, a magia do tempo

Labirinto – A magia do tempo é um filme de 1986 que marcou a infância de uma geração, um clássico. O filme contém tudo o que um bom filme dos anos 80 precisa ter, inclusive David Bowie no elenco.

A história relata a “Jornada do Herói” de Sarah Williams, uma jovem de 15 anos que está passando por uma crise adolescente. Ela tem um irmão ainda bebê, Toby, fruto do casamento de seu pai com sua madrasta, do qual ela sente muito ciúmes, a ponto de desejar que ele não existisse.

O filme todo se passa em apenas uma noite em que Sarah deve tomar conta de Toby. Irritada pelo fato de o irmão não parar de chorar e por ter que cuidar dele, ela começa a fantasiar e fazer citações de trechos de seu livro “Labyrinth” no qual uma garota recebe poderes do rei dos duendes. Então, ao sair  do quarto do irmão, ela apaga a luz e diz: “Eu desejo que os duendes apareçam e levem você agora mesmo!”. Repentinamente, Toby para de chorar. Preocupada, ela volta ao quarto do irmão e percebe que ele desapareceu. Então, uma coruja entra pela janela e se transforma no rei dos duendes, Jareth (David Bowie), que diz a Sarah que realizou seu desejo. Arrependida, ela pede para ele desfazer o feitiço, mas, para isso, Jareth lhe dá uma missão a ser realizada em treze horas: atravessar o labirinto que separa o mundo exterior do castelo dos duendes, onde Toby está. Começa então sua Jornada do Herói.

O labirinto não tem um padrão e não obedece a uma logica racional. Para ultrapassá-lo, é preciso também desvendar alguns enigmas.

Partindo para uma visão psicológica e um pouco espiritualizada, o filme representa exatamente a vida de uma pessoa normal, dominada pelo ego, como a maioria das pessoas desse planeta. O labirinto representa a mente. Uma mente que é dominada pelo ego, a princípio, e que passa a ter um propósito a partir do aprendizado adquirido com cada etapa vencida. Se a pessoa conquistou o labirinto e sobreviveu, aprendendo com cada dificuldade, então aprendeu a dominar o ego e está se elevando espiritualmente. Jareth representa o Ego e cada personagem do labirinto representa um aspecto da personalidade de Sarah.

O ego é um desejo profundo de dominar, controlar, o mundo, as pessoas, as situações. É a mente que depende de algo externo. Que procura uma felicidade apenas externa, em coisas materiais, em breve prazeres. Isso é o EU falso. O ego é que nos da a ideia de falta, de que somos incompletos e que não somos perfeitos. Apenas quando o ego é dominado é que realmente vivemos o nosso potencial, seres perfeitos e abundantes. A consciência que há em todo ser se ergue, uma consciência eterna, atemporal, imortal. Para entender melhor a ideia de ego, é preciso perceber a diferença entre os tipos de pessoas: as pessoas dominadas pelo ego que brigam facilmente, não entendem os outros, são confusas e sempre insatisfeitas. As pessoas que são espiritualmente maduras solucionam os problemas discutindo com empatia, tentam entender os outros.

Quando Sarah busca pelo seu irmão, ela na realidade está buscando a si mesma na sua versão mais pura, a de um bebê, que é o único momento da vida em que somos verdadeiramente o que deveríamos ser: pura essência, um ser sem ego, sem medos, sem travas, puro amor. Enquanto Jereth/ego está no comando, Sarah faz o que ele quer, atravessa o labirinto com uma visão racional, passa por dificuldades e tenta sobreviver, exatamente como algumas pessoas vivem, passam pela vida apenas tendo dificuldades e tentando sobreviver, justamente por estarem dominadas pelo ego.

Logo que Sarah entra no labirinto, ela percebe que não há passagens nem cantos ou curvas, apenas um caminho reto. Ela está seguindo com um pensamento racional, assim como nós, quando olhamos para um problema, procuramos uma saída racional e não vemos as infinitas possibilidades. Sarah tem sua primeira lição, na mente/labirinto: as coisas não são sempre o que parecem. Ela percebe que está supondo que o caminho é assim e que talvez não seja realmente. Ela se abre para o novo e tem a intuição de ir para o lado esquerdo, que é o caminho certo, mas uma minhoca fala para ela não ir por ali e ela obedece. Ainda dominada pelo ego, não percebe sua sabedoria interior, não ouve sua intuição e prefere seguir os conselhos de um verme. Quantas vezes fazemos isso em nossa vida?

Ainda usando a mente racional, pinta uma pedra no chão com uma seta indicando para onde está indo, a fim de não se perder, mas a pedra muda de posição e ela se irrita e acha isso injusto. Quantas vezes achamos injustos os acontecimentos da vida, mas na verdade apenas não sabemos como o labirinto funciona?

Sarah insiste em usar a lógica e se depara com um grande enigma que pode custar sua vida, e então responde de forma correta e se salva. Assim aprende a seguir sua intuição, pelo menos por hora, e vai parar no calabouço, onde tem uma conversa com sua consciência, Hoggle, um duende. Pensa em desistir, sente medo, faz um acordo com ele e segue em frente. O ego domina a consciência, mas não a essência.

Ela consegue voltar ao labirinto e encontra um velho sábio. Ele fala para ela: “O caminho adiante, às vezes é o caminho para trás”. Para entender isso, é preciso pensar que, se não conseguimos chegar onde queremos, prosperidade, abundância, amor, ou quando chegamos onde não gostaríamos, conquistamos coisas que não são positivas. É preciso resolver os conflitos do passado, então para ir em frente é preciso voltar para trás. Outro conselho: “Geralmente parece que não chegamos a lugar algum quando na verdade chegamos”. Isso é vivido quando o ego não influencia, quando sentimos gratidão pelo que temos em vez de olhar para o que nos falta.

Sarah encontra Ludo, um animal grande e peludo, porém dócil. Ludo representa o medo, parece assustador, mas, quando o conhecemos, ele se torna nosso amigo.

Há uma cena em que vários seres dançam e perdem suas cabeça. Eles dizem: “Nós queremos diversão”, e logo depois a consciência/Hoggle puxa Sarah para cima e os dois caem no “poço do fedor eterno” e encontram o medo/Ludo. O que podemos perceber aqui é que, quando perdemos nossa cabeça, a consciência nos puxa para a realidade e depois temos um momento de ressaca moral ou física. Claro que a diversão é importante e muito boa, mas perder a cabeça não é bom, sendo preciso estar presente a todo o momento, pois, quando você não está vivendo a sua vida, quem está?

Logo em seguida Sarah encontra a Didymus/coragem, que domina o medo, e passam a andar juntas. Ela precisa atravessar uma ponte e então segue a coragem, mas é salva pelo medo quando a ponte desmorona. Então é necessário medo e coragem em equilíbrio.

A consciência é dominada pelo ego e Hoggle dá uma fruta envenenada para Sarah, que dorme profundamente, sonha e se perde na ilusão da consciência até que decide buscar a essência, sai da ilusão e cai sobre um monte de coisas entulhadas. No meio dessa montanha de lixo, encontra uma porta que dá para seu quarto e se lembra de tudo como um sonho. Começa a ver vários objetos da sua infância, mas ela sente que estava buscando algo que não está lá, mas não se lembra do que era. Essa situação parece com a ilusão do consumo: as pessoas sentem um vazio, buscam por algo de que não se lembram e então começam a acumular objetos, lixos e coisas sem importância. Ela ignora todos os objetos e volta à jornada em busca da sua verdadeira essência.

Sarah vence todas as armadilhas do ego e consegue chegar até a cidade dos duendes junto com a coragem e o medo. Há uma batalha final e eles vencem, chegando até o castelo.

Agora já dentro do castelo, pronta para enfrentar o ego, ela se vê entre várias escadas que não apresentam lógica alguma. Mesmo assim, ela volta ao padrão de pensamento racional e não consegue chegar até Toby. Quando chega ao seu limite e não sabe mais o que fazer, ela se joga, abandona o racional e então consegue chegar onde quer.

Sarah enfrenta seu ego em um diálogo final.

– Eu fui generoso até agora, mas posso ser cruel. (Ego)

– E o que você fez de tão bom? (Sarah)

– Tudo o que você quis eu fiz. Você pediu para a criança ser levada e eu levei. Se acovardou diante de mim e eu fui assustador. Reorganizei o tempo. Virei o mundo de cabeça para baixo e fiz tudo isso por você. Estou cansado de suprir suas expectativas sobre mim. Eu te peço tão pouco: deixe-me guiar você e poderá ter tudo o que quiser. (Ego)

– Você não tem poder sobre mim.

Então o ego foi dominado e tudo volta ao normal. Sarah está novamente em casa e entrega seu urso de pelúcia para Toby, que está dormindo no berço, como sinal de amadurecimento.

Em seu quarto, ela se despede dos amigos que fez no labirinto e diz que precisa deles em sua vida, como forma de integração de sua sombra, seus medos e questionamentos, porém amadurecida e sabendo controlar seu ego.

Por Luiza Franco
25/05/2015 10h31