“Mas tudo passa, tudo passará…”

É inevitável, amigos. Em algum momento da sua vida, em uma roda de conversa, alguém vai propor que cada coleguinha conte um fato curioso (e preferencialmente constrangedor) sobre si mesmo. O melhor a fazer, penso eu, é admitir logo de uma vez: sim, eu já fiz aulas de axé. Era o auge do sucesso do É o Tchan, na segunda metade da década de 90, e duas vezes por semana eu descia na boquinha da garrafa – sem malícia, no entanto, afinal eu tinha menos de 10 anos. E eu era relativamente boa nisso, a ponto de sempre ficar na primeira fila durante as apresentações.

Mais ou menos na mesma época, comprei dezenas de revistas Capricho apenas porque havia uma linha qualquer sobre as Spice Girls – a quem interessar possa, eu era a Geri. Por elas, chupei muitos pirulitos que eu considerava ruins, mas que vinham com figurinhas colecionáveis. Também assisti Spice World incontáveis vezes e invejei muito as amigas que tinham um tênis plataforma. (Porém, nunca gostei muito das boy bands. Eles eram todos iguais, sem metade da energia delas – ao menos na minha opinião da época).

O meu primeiro show foi “do Sandy & Junior”, é claro. Eu estava muito longe do palco e não enxerguei nada, mas cantei junto praticamente todas as músicas. Em algum momento, no entanto, deixei tudo isso de lado e escutei somente gospel. Gosto de pensar que tenho um poder de argumentação muito bom, pois inclusive convenci colegas da quinta série a fazermos um trabalho – que deveria ser relacionado à música, mas com estilo livre – sobre metal gospel.

Talvez esse tenha sido o primeiro indício do surgimento da minha fase rockeira, depois de desistir do cristianismo. Eu passava tardes e tardes sentada ao lado do meu irmão enquanto ele jogava Age of Empires, escutando rock – para não complicar muito a história, prefiro me referir ao estilo assim mesmo, de forma genérica. Nessa época eu estava começando a me interessar mais pelo inglês, o que fazia com que passasse muito tempo lendo os encartes dos CDs dele, que acabei herdando posteriormente. A lista é bem variada, mas me lembro de gostar especialmente de AC/DC, Iron Maiden, Megadeth, Queen e Queensrÿche.

Quando saí do ensino fundamental, em um colégio público do Uberaba, e entrei no ensino médio do antigo CEFET-PR, conheci muita gente diferente e meio esquisita. Não resisti ao ímpeto de me tornar meio esquisita também, passando a escutar umas coisas que hoje acho horripilantes – foi mal aí, mas não tenho mais paciência para esse lance de gutural. Pintei o cabelo de vermelho fogo, passei a usar delineador bem marcado, coturno e roupas pretas. O suficiente para chocar os vizinhos.

Meus pais nunca tentaram me dissuadir de nada, ainda que em casa o repertório fosse bem diferente. Os almoços de fim de semana eram sempre acompanhados por várias coletâneas no estilo “os melhores sucessos” de artistas da música popular brasileira. Zeca Baleiro, Marisa Monte, Ney Matogrosso, Cássia Eller, Caetano Veloso e Chico Buarque foram os que mais me marcaram. Bandas internacionais eram bem raras – com exceção de Nightwish. Meus pais adoram Nightwish.

Nesse vai e vem musical, cheguei à conclusão de que hoje estou mais inclinada ao gosto dos meus pais – ainda que não esteja tão certa sobre Nightwish. Hoje mesmo revirei seus CDs antigos e separei vários deles para escutar com mais atenção. Inclusive, preciso confessar: pai, eu gosto sim de Renato Teixeira e Almir Sater. Sei que sempre frisei o quão chatas eu achava as músicas deles, mas, pelo visto, a chata era eu.

Por Nayara Brante
03/05/2015 12h42