Hiper-realismo representa um estilo de pintura e escultura que procura mostrar uma abrangência muito grande de detalhes. “Se por um lado o hiper-realismo é bem aceito pelas pessoas, pelas redes sociais e pela mídia, no ‘Circuito das Artes’ ele pode ser bem mal visto e inferiorizado”. Assim define a sua área de atuação o pintor Luiz Escañuela, paulista que, aos poucos, está conquistando destaque internacional com suas pinturas.
“O hiper-realismo sempre foi uma espécie de ‘objetivo’. Por muito tempo parecia, para mim, só uma das coisas que eu via e nunca conseguiria fazer. Quando tinha 18 anos, eu me tranquei no quarto e disse para mim mesmo que só sairia quando notasse que estava fazendo um desenho hiper-realista. Eu apanhei bastante, mas quando me dei conta da potência gerada pelo cuidado com os detalhes, quando entendi que pensar milímetro a milímetro era a chave, a coisa fluiu e tem me acompanhado desde então”. E o resultado desses esforços apareceu.
Isso não significa, entretanto, que ele não reconheça os desafios que suas criações enfrentam. Em suas palavras, há uma romantização da arte contemporânea como um terreno livre, onde tudo é possível. Entretanto, a afirmação é equivocada, pois este meio “guarda uma grande capacidade de excluir e ignorar determinadas expressões artísticas em prol de uma crítica ‘antiacademia’ supostamente ácida que cai como uma luva na mão de pseudo-intelectuais”.
Luiz, apesar de suas habilidades assombrosas, é um jovem como outro qualquer. Gosta da noite, de sair com os amigos e só voltar no dia seguinte. Não abre mão da boêmia, pois, através dela conhece gente nova. Baladas bares, casas de amigos… A noite de São Paulo é sua companheira.
Ainda assim, nos momentos sozinho, assiste a filmes e come pipoca. Lê livros em metrôs. Gosta do movimento. Tem em sua playlist de tudo um pouco, associando escutar música a pintar. Ouve o dia inteiro. Vai desde MC Carol a trilhas sonoras de Hans Zimmer.
Escañuela se diz apaixonado por filmes latinos de road trip. Entre seus longas preferidos, cita “As Horas” e “The Dreamers”. Assiste, também, a blockbusters. Em suma, é uma pessoa múltipla.
Expõe em galerias de arte em São Paulo, sendo que, em abril, uma nova obra sua estará na Galeria Luis Maluf. Mas o Brasil é pequeno demais para este grande artista. Recentemente, deu entrevista a um portal chileno. Pelo que demonstra em seu Instagram, recebeu ligações e mensagens da Rússia, India, China, Japão, África do Sul, Argentina. Tem uma obra que estava sendo exposta Feira de Arte Contemporânea de Palm Beach, na Flórida, e depois ela iria para Londres. Esta obra:
Aos poucos, Luiz Escañuela atrai a atenção do mundo. O que acha disso tudo? “É extremamente gratificante e inusitado. Nesses momentos, eu paro para lembrar quando desenhava na infância e do quanto tudo isso passou boa parte do tempo sendo uma prática despretensiosa para mim. A união da intenção com algo que se instalou de maneira tão fluida na minha vida tem gerado esse tipo de reconhecimento e isso impulsiona cada uma das criações seguintes”.
Cada uma de suas pinturas demanda planejamento e dedicação extrema aos detalhes. Primeiro, ele escreve bastante sobre trabalhos que pretende desenvolver, buscando, dessa forma, um diálogo entre um e outro para definição de conceito e estética.
Depois disso, parte para uma sessão de fotos com modelos, estipulando as partes do corpo que serão fotografadas, a dramaticidade, luz. A partir dessas fotos, faz uma seleção do que serão os próximos quadros. “Hiper-realismo é uma técnica que demanda muito tempo, os experimentos dificilmente são por impulso, precisam ser trabalhados e projetados antes de colocados em prática”.
Considera como diferencial as experimentações com recortes específicos da interação de corpos, vendo como uma nova possibilidade de exploração. Cita como influências as britânica Jenny Saville, o húngaro István Sándorfi e o neozelandês Jeremy Geddes, além do aquarelista brasileiro Marcos Beccari.
Não fosse o hiper-realismo, veríamos Escañuela aprontando com esculturas e fotografia, definindo o hiper-realismo tridimensional como o ápice da representação e a fotografia como a técnica na qual a luz torna-se maleável e aberta a infinitas oportunidades de registros detalhados.
É formado em design gráfico e está cursando artes plásticas no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Através do design, seguiu “uma veia muito ilustrativa”, trabalhando com aquarela e técnicas mais abertas. Foi o início de tudo. Ali, definiu suas áreas de interesse e aperfeiçoou as técnicas para conceber imagens que visualizava na mente e queria passar para o papel.
Já nas artes visuais, aprimorou a técnica da tinta a óleo, mas recebeu, principalmente, uma bagagem de estudos sobre a história da arte e suas manifestações na contemporaneidade, que foram um divisor de águas para se entender como artista.
O artista nunca passou por Curitiba, mas, em novembro, fará sua primeira exposição individual na já citada Galeria Luis Maluf, em São Paulo. Sobre o apoio da família e amigos, diz: “Basicamente vivem tudo comigo. Ser artista visual é diferente de trabalhar com música, teatros, shows e espetáculos. É um cenário bem mais low-profile, os eventos em que o trabalho é apresentado geralmente são coquetéis e meus amigos sempre estão comigo. Quando preciso de ajuda para uma sessão de fotos ou de modelos posso contar com eles da mesma forma. Minha família é completamente entusiasta com tudo o que rola e me ajudam com tudo”.
“Saber que existe a mínima possibilidade de representar o Brasil, para mostrar que nosso país possui potências para a geração não só da arte exotificada, mas também com interesses universais, contemplativos e responsivos, é a visualização do futuro ideal que almejo para minha pesquisa e para a repercussão de todo o trabalho”. Sua ambição não é pequena. Nem deve ser.
Perfil no Instagram: luizescanuela
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