Joguei suas coisas fora

Demorei algum tempo, mas finalmente joguei as suas coisas fora. Tudo aquilo que estava esperando impaciente na minha estante, e que todos os dias me encarava como se perguntasse se eu já estava pronto ou não. Tudo isso foi para o lixo.

Eram memórias, lembranças de tudo aquilo que fomos e que nunca mais voltaremos a ser. Mantive tudo aqui por algum tempo, mesmo após a sua partida, talvez na estranha esperança de que eu tivesse algo para me prender. Nunca é fácil deixar alguém ir embora.

Joguei tudo fora, sim, e agora eu posso dizer que não adiantou. Os porta-retratos eu arremessei em um muro perdido em uma rua deserta, as cartas eu rasguei e coloquei fogo para soar dramático, e os outros presentes viraram entulho em um lixo qualquer. Contudo, você ainda está aqui. Tem teu nome entre as nuvens, tem teu cheiro espalhado pelas ruas.

Eu joguei suas coisas fora. Todos os teus vestígios materiais. Mas ainda é cedo para me desfazer de qualquer sentimento.

Por Pedro Guerra
25/09/2017 23h00