Crítica – Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância

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Eis aqui um exemplo de filme que não necessita de nenhuma motivação extra para ganhar atenção: Birdman, produção premiadíssima que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta (29). Com direção do mexicano Alejandro González Iñárritu, o elenco do longa é composto por atores como Michael Keaton, Edward Norton, Emma Stone, Zach Galifianakis e Naomi Watts.

Birdman nos apresenta Riggan Thomson (Keaton), um ator que vive na sombra do herói Birdman, papel que desempenhou anos atrás, e agora tenta alavancar novamente a carreira com uma peça de teatro na Broadway.

No currículo da obra, até o momento são mais de 100 prêmios ganhos, entre eles e por último o de melhor elenco no SAG Awards, além de nove indicações ao Oscar 2015: melhor filme, direção (Alejandro G. Iñárritu), ator (Michael Keaton), ator coadjuvante (Edward Norton), atriz coadjuvante (Emma Stone), fotografia, edição de som, mixagem de som e roteiro original. Ou seja, é reconhecimento merecido sem fim.

Iñárritu é um diretor que começou a ganhar destaque na Trilogia da Morte: “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel” (o primeiro indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e o último na categoria de melhor filme). Em sequência veio “Biutiful”, novamente aclamado e colocando-o no posto de melhores diretores dramáticos estrangeiros. Famoso por saber explorar o drama ao máximo nas relações pessoais, o mexicano queria mais e foi com a comédia de humor negro Birdman que chegou ao reconhecimento máximo. O único empecilho para não levar o Oscar de melhor diretor é o fato do compatriota Alfonso Cuarón ter levado no ano passado, já que a Academia não costuma repetir na premiação.

Michael Keaton percorreu um caminho bem semelhante ao do personagem que vive no filme, já que ambos ganharam renome ao interpretar um super-herói nas telonas e então entraram em decadência. Keaton no final dos anos 80 era o nome da vez em Hollywood, protagonizando os filmes “Os Fantasmas se Divertem” e as duas primeiras adaptações de Batman pro cinema. Depois disso, sumiu e começou a fazer pontas em produções secundárias como “A Filha do Presidente”, “Herbie” e em 2014 “Robocop” e “Need for Speed”. Em Birdman ele mostra seu potencial como ator aos 63 anos. Dá um show de interpretação e carrega sem problemas o protagonismo nas cenas, passando de momentos de insanidade cômica para dramas pessoais e familiares em segundos. Merecedor absoluto da estatueta de melhor ator.

Mas não é só Keaton que atua com maestria. Emma Stone passou de menina atuando em filmes adolescentes para uma atriz de grande carga emocional e atuação coerente, o que lhe rendeu a primeira indicação ao Oscar da carreira. Edward Norton ressurge após alguns anos à deriva e é o grande destaque cômico em cena, com seu personagem de ego inflado que beira a loucura – e houve indicação ao Oscar pra ele também. Já Zach Galifianakis foge da zona de conforto das comédias escrachadas e mostra uma boa presença em situações descontraídas, enquanto Naomi Watts é quem deixa a desejar num papel totalmente coadjuvante.

Birdman é uma obra-prima sem sombras de dúvidas, em todos os quesitos. Fora as atuações excepcionais e uma direção brilhante, o filme consegue manter durante todo o tempo um ar de loucura misturado com dramas familiares, disputas de ego, problemas recorrentes, procura por autorreconhecimento e conflitos internos. A produção se passa quase inteiramente dentro da Broadway, com gravações de tomadas únicas que se entrelaçam pelos corredores num estilo eternizado por Stanley Kubrick. A fotografia escurecida retrata bem todos os entraves de Riggan. Do mesmo modo da trilha sonora, que o acompanha de acordo com seus momentos, com leveza e instrumentais pesados.

Ponto fraco

Talvez o que possa pesar e desagradar alguns é o estilo do filme, com um humor mais pesado, cenas arrastadas e diálogos intensos. Obviamente é tudo questão de gosto.

Ponto forte

Tudo é merecedor de destaque em Birdman, mas é impossível não reconhecer o modo como Hollywood é tratada. Mostrando que atualmente não importa mais um belo roteiro ou boas atuações, e sim muitos efeitos especiais e qualidades no estilo blockbuster de ser. As cenas de um pássaro metálico gigante sendo atacado pela polícia enquanto o Birdman diz que é isso que vende independentemente da qualidade, além de flashs de homens fantasiados de Vingadores, Homem-Aranha e Transformes brigando entre si, representam bem tal crítica.

Nota: 10,0

Trailer – Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância (Birdman)

Por Adalberto Juliatto
29/01/2015 21h16